Casa da Morte, palco de tortura na ditadura, pode virar museu

Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis fez pedido há dois anos

Casa em Petrópolis funcionou como centro de tortura

A prefeitura de Petrópolis quer transformar a Casa da Morte – aparelho clandestino montado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) – em um Centro de Memória, Verdade e Justiça. A proposta foi apresentada ao município pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis (CDDH) e pretende resgatar a História dos anos de chumbo. O município já começou o levantamento patrimonial do imóvel, que pode ser desapropriado, e depois tombado, ainda este ano. A transformação da casa em centro se arrasta há dois anos por falta de verbas. O município alega não ter recursos para a compra e aguarda a garantia de repasse de dinheiro por parte do governo federal.

Presidente do CDDH, Maria da Glória Guerra afirma que a criação do Centro de Memória, Verdade e Justiça vai evitar que a História da Casa da Morte se perca com o tempo e irá colaborar com as investigações dos desaparecidos políticos.

– Países como Argentina e Chile têm locais dedicados à memória do período das ditaduras. Será um centro de referência sobre o que ocorreu durante os governos militares em nosso país. Muitos jovens não têm conhecimento do que aconteceu no Brasil nessa época. O centro também vai valorizar a preservação dos direitos humanos. Nós lançamos a proposta. Cabe, agora, ao poder público, seja municipal ou federal, abraçar a ideia – diz Maria da Glória.

O projeto de desapropriação da Casa da Morte não é novo. Em 1981, proposta apresentada à Câmara Municipal de Petrópolis sugeriu o tombamento do imóvel, atualmente descaracterizado e transformado em moradia. Por pressão de militares, vereadores da época rejeitaram o projeto. O atual dono do imóvel, o engenheiro Renato Firmento de Noronha, resiste ao tombamento do local. De acordo com o CDDH, Noronha chegou a colocar em xeque o funcionamento do aparelho de repressão na casa durante reunião sobre a desapropriação. Noronha tem evitado falar sobre a proposta.

– Essa proposta foi apresentada em 2010 pelo CDDH e não foi adiante. Participei da reunião, mas não fui comunicado até hoje de qualquer decisão sobre a desapropriação. Por isso, não posso falar ainda sobre a desapropriação – afirmou Noronha.

Já o prefeito de Petrópolis, Paulo Mustrangi, reclama do curto orçamento da cidade para realizar o projeto.

– Precisamos de recursos para a desapropriação e contamos, para isso, com o governo federal. Tenho plena consciência da importância daquele espaço. Nossa meta é criar condições jurídicas para a implantação, no local, de um centro de pesquisa que reúna material sobre o período após o golpe de 1964 – explicou.

A avaliação do imóvel será encaminhada à Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, para que o governo federal decida sobre a desapropriação. O imóvel foi comprado por Noronha em 1979 e não teve seu valor atualizado – ainda consta na prefeitura a quantia de 150 mil cruzeiros. A casa, na Rua Artur Barbosa, fica próxima ao valorizado Centro Histórico de Petrópolis.

 

Fonte – O Globo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *