“Ditadura não tem um lado bom”, diz Sérgio Britto, apresentador da TV Brasil

No último dia 10 de setembro, a TV Brasil estreou a minissérie especial em sete episódios “Exílio e Canções”, sobre a música, cultura e histórias dos brasileiros que foram forçados pela ditadura militar a viver fora do País. A atração é apresentada pelo músico Sérgio Britto, da banda de rock Titãs.

Sérgio Britto, do Titãs, atua pela primeira vez como apresentador de TV

A ideia surgiu da parceria entre Britto e o cineasta Otávio Juliano, que dirigiu os videoclipes das músicas “Purabossanova”, com participação de Rita Lee, e “Aqui Neste Lugar”, com Negra Li. O cantor é filho de Almino Affonso, primeiro ministro do Trabalho do governo João Goulart, com quem viveu exilado no Chile por oito anos após o golpe militar no Brasil, de 1965 a 1973.

“Ele tinha me contado dessa experiência no exílio e como isso influenciou a música dele, do rock chileno e das músicas de protesto latinas”, lembra o diretor Otávio Juliano. “Começamos a pensar nos outros artistas que também passaram por essa experiência e trouxeram essa outra cultura para a arte deles depois, não só na época do exílio.”

O programa recebe, semanalmente, artistas de diferentes gêneros para falar sobre os tempos de ditadura e a influência musical e cultural da época. Além do próprio pai, Britto recebeu também o coreógrafo e bailarino Ciro Barcelos, a documentarista Marta Nehring, a escritoras Ana Maria Machado, a jornalista Rosiska Darcy de Oliveira e o autor e diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa.

“É uma experiência nova para mim”, diz o músico sobre a função de apresentador e entrevistador na TV. “De cara, achei um pouco estranho. Não estava nos meus planos. [risos] Mas são duas coisas que fazem parte do meu universo, com as quais tenho intimidade, tanto essa história do exílio quanto canções. Então, resolvi topar e fico muito feliz de ter aceitado. Ficou melhor do que eu imaginava”, conta.

Reviver os tempos de ditadura e exílio com seu pai não foram um problema, revela Britto: a lembrança, ele diz, nunca vai embora. “Lembrar é uma coisa que a gente fez e faz constantemente. Foi um período importante na nossa vida. Na minha família, quando a gente se encontra, essas coisas vêm à tona. Então, não é algo que eu tenha deixado no passado. É algo que faz parte da minha vida, e acho que é assim para todos os que passaram por uma experiência marcante assim.”

“O programa vai muito por esse lado da música e da cultura. É muito clara a ligação dos exilados com a música, que fazia com que eles pensassem no Brasil, tivessem essa saudade e vissem o que estava acontecendo aqui”, acrescenta Otávio. Segundo o diretor, é fundamental fazer esse resgate da importância da música no cenário social e político brasileiro, especialmente para as novas gerações, que se acostumaram ao conteúdo “enlatado” da televisão.

Os episódios são disponibilizados na íntegra no site da TV Brasil logo após sua exibição, toda quarta-feira, às 23h. Segundo o diretor, uma segunda temporada já está nos planos da equipe.

 

A temática

Britto diz que o tom musical e cultural do programa foi determinante para que ele participasse do projeto. “Se fosse de outra maneira, eu não me sentiria a vontade. Acho que essa coisa de trazer as canções, tocar e tentar fazer com que os convidados cantem um pouco – o que não é nada difícil, diga-se de passagem – é bacana porque traz para o programa uma cara diferente. Dá esse aspecto mais emocional, diferente da maioria dos programas de entrevista. Acho que diferente de todos, para falar a verdade”, comenta o músico.

Para Britto, falar sobre uma história recente do Brasil, a qual muitas pessoas “não conhecem direito”, é fundamental. De acordo com o cantor, discute-se muito hoje em dia o valor da democracia representativa – “tudo é questionável e questionado”, diz. Mas, para ele, o debate só tem a ganhar quando as pessoas conseguem imaginar o que é viver sob um regime ditatorial.

“Talvez falte às pessoas ter uma consciência mais real do que é ter seus direitos individuais ameaçados, sua liberdade e sua integridade física ameaçada só porque você pensa de maneira diferente. É importante que essas coisas todas se fixem no subconsciente do brasileiro: uma ditadura não tem um lado bom. Pelo menos é essa a minha visão. E acho que, se o programa puder contribuir para isso, já terá feito algo de valor”, finaliza o músico.

 

 

 

Fonte – Portal Imprensa

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