Davy Lincoln Rocha compartilhou texto no Facebook em que se disse “decpcionado” com os militares devido à “vergonhosa timidez” com que a instituição estaria agindo
Em 2013, usou um nariz de palhaço e se emocionou ao vistoriar e ver as condições de um hospital da cidade/Foto: ND Joinville
Um procurador da República foi afastado das funções após publicar um texto no Facebook defendendo a intervenção militar no Brasil.
Davy Lincoln Rocha trabalha no Ministério Público Federal em Joinville, cidade localizada na região norte de Santa Catarina. Ele publicou um texto em sua página pessoal com o título “Carta Aberta às Forças Armadas”, onde questionou o “arrocho salarial” de servidores públicos, o programa Mais Médicos, as obras da Copa do Mundo da Fifa e o sistema de saúde, entre outros pontos.
“O atual sistema político reduz à quase miséria todo o Serviço Público, humilhando-o, quando à espera de sua vez de também receber um BOLSA QUALQUER COISA (sic)”, afirma o procurador no texto, que foi publicado há mais de um ano e intensamente compartilhado nas redes sociais após a campanha eleitoral.
Ao final, Liconln Rocha chega a se dizer “decepcionado” com os militares devido à “vergonhosa timidez” com que a instituição estaria agindo, em seu entendimento, diante da “corruptocracia que dominou aquilo que outrora chamávamos de Brasil”. Os últimos trechos acabaram escritos com letras maiúsculas.
Devido ao teor do texto, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decidiu pelo afastamento de Davy pelo período de 90 dias além da abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), em reunião realizada na noite desta segunda-feira.
O CNMP ainda remeteu o caso à Procuradoria Geral da República, para providências de cunho penal. Lincoln pode ser acusado de ter cometido crime contra a ordem democrática e a ausência de decoro pessoal.
O procurador Davy Lincoln Rocha destacou não ter sido intimado ou notificado da decisão. “Fiquei sabendo por terceiros e fui afastado preventivamente, o que é estranho”, disse.
O texto, segundo o procurador, teria sido redigido em setembro de 2013, em sua casa, e seria uma forma de “desabafo” contra a situação do país. “Escrevi em meu perfil do Facebook, de minha casa, sem usar nenhum equipamento do MPF. E começo me tratando como um cidadão. Em nenhum momento me identifico como procurador”, disse à reportagem do Terra. “Foi um desabafo com uma licença poética. Foi na época do mensalão, lembrei de meu pai que foi militar por mais de 25 anos e escrevi em um momento de emoção”.
O procurador ainda acredita existir um “estigma” de parte da sociedade em relação aos militares. “Quando as pessoas falam em manifestação militar ainda percebo um estigma como aquele que existiu por muitos anos em relação ao povo alemão, sempre relacionado ao nazismo”, destaca. “Hoje as Forças Armadas estão repletas de jovens, pessoas cultas e estudadas. Não há relação com golpe ou nada antidemocrático. Até porque um golpe militar se trata em segredo e não pelo Facebook”. Rocha já foi autor de atos polêmicos em Joinville. Em 2013, usou um nariz de palhaço e se emocionou ao vistoriar e ver as condições de um hospital da cidade.
Pouco antes da abertura do processo por parte do CNMP, o procurador ainda foi destaque na mídia nacional ao publicar um artigo onde critica duramente a concessão de auxilio moradia a membros do Ministério Público. Com o título “Tomara que Deus não exista”, Davy fez ironias com o benefício de R$ 4,3 mil criado para a classe. “Tomara, mas tomara mesmo que Deus não exista, poir Ele sabe que tenho casa própria, como de resto têm quase todos os Procuradores e Magistrados”, escreveu.
Confira a íntegra do texto publicado no Facebook:
“PREZADOS SENHORES OFICIAIS SUPERIORES.
Eu, Cidadão Brasileiro, criado por Oficial da Marinha de Guerra do Brasil (ex-combatente da II Guerra, condecorado com medalha de Guerra), ESTOU PROFUNDAMENTE DECEPCIONADO com os Senhores.
Em 1964, quando o Brasil se encontrava na beira do abismo, prestes a cair nas mãos do Comunismo, da baderna generalizada, os Srs. se apresentaram e nos devolveram um país democratizado, estável, a salvo de ter se tornado uma Republiqueta de Bananas dominado por Narco Ditadores, ou por oligarquias pseudo-socialistas, como ocorreu em boa parte da América Latina. Teríamos nos tornado uma gigantesca Cuba, ou uma Venezuela, ou mesmo uma Bolívia, não fossem os Srs.
No Poder, mal assessorados, os Srs. cometeram graves erros, como o de suprimir a voz da opinião pública, ao temor de que essa vocalizasse as intenções dos terroristas vermelhos, os mesmos que os Srs. falharam em manter presos, aliás, libertando-os em troca de diplomatas sequestrados, o que foi um GRANDE erro, pois hoje, vários deles estão no Poder.
Fonte – Terra