Além de julgar processos para indenizar vítimas do período de repressão, a caravana pretende resgatar a memória política brasileira
Sessão de Julgamento da Comissão de Anistia que julgou pedidos de camponeses perseguidos durante guerrilho do Araguaia Isaac Amorim/MJ/Flickr
Diversos camponeses vítimas da Guerrilha do Araguaia no Pará vão participar durante esta semana, da nonagésima segunda Caravana da Anistia. O evento será realizado em Belém (PA) até sexta-feira (11).
As caravanas são sessões públicas em que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça se desloca para diversas cidades do Brasil com o objetivo de julgar os requerimentos de anistia política. Seu Raimundo Gomes de Sousa tem 87 anos e é de São Geraldo do Araguaia. Ele vai participar das sessões de julgamento e espera ser anistiado por tudo que passou na década de 70.
“Quem bate esquece, mas quem apanha não se esquece. Eu sofri muito, passei vergonha, apanhei muito, levei tapa na cara, chute na virilha, levei coronhada de pau na cabeça. Eu fui muito torturado naquela época. O que eu espero, minha irmã, é que tudo dê certo, que tudo corra bem. Que venham pra resolver esse problema e nos tirar desta canseira”, relata.
Além de julgar processos para indenizar vítimas do período de repressão, a caravana pretende resgatar e divulgar a memória política brasileira, para difundir o debate em torno dos temas da anistia política, da democracia e da justiça de transição.
Para o presidente da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia, Sezóstrys Alves da Costa, no Brasil ainda falta reparação e valorização dos que foram perseguidos pela ditadura.
“Há muita coisa ainda pra se fazer nesta questão. Aqui os camponeses eles foram vitimados naquele período e agora, tardiamente, é que vem esse reconhecimento e ainda parcial porque eles não reconhecem todos os casos, tendo em vista as dificuldades encontradas para instruir esses processos, pra provarem que realmente foram perseguidos”, diz Costa.
Em Belém, as sessões de julgamento vão ocorrer na Universidade Federal do Pará e na sede da OAB. O encerramento do evento contará com um ato público, às cinco da tarde, em frente ao Museu da Casa das Onze Janelas, um ex-centro de detenção e tortura utilizado pelos militares durante o período ditatorial.
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Fonte – EBC