No Seminário Internacional Operação Condor, promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, ligada à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Boccia Paz disse que as vítimas brasileiras da ditadura tiveram dificuldades de romper a resistência dos militares e de setores da imprensa em esclarecer os fatos ocorridos durante o regime ditatorial no País. “Conhecer a verdade é resgatar a memória e consolidar a democracia”, salientou. “A história pode ser circular e pode haver retrocessos na história”, complementou.
Segundo o professor, é essencial preservar os documentos da ditadura e torná-los públicos. No Paraguai, os chamados “arquivos do terror” foram digitalizados e organizados. De acordo com o professor, a preservação desses arquivos tem valor documental, simbólico e jurídico, possibilitando a condenação de agentes da repressão.
O líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), ressaltou a ausência, no seminário, de membros da Comissão da Verdade, que começou a funcionar apenas recentemente no governo Dilma Rousseff. Ele considera essa ausência “preocupante”.
Golpe no Paraguai
Para o advogado e professor Martin Almada, do Paraguai, a constituição e bom funcionamento da Comissão da Verdade em todos os países é muito importante para “cortar as asas do Condor”. Ele acrescentou ainda que o recente golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência do seu país revela a atualidade da operação. Na visão de Almada, essa “nova Operação Condor” é muito mais abrangente do que a iniciada em 1964, no Brasil: “É mais suave, global e revestida de uma capa pseudodemocrática, por meio da cooptação dos parlamentos.”
Chico Alencar afirmou que, ao fim do seminário, deverá ser aprovada moção de repúdio ao “golpe branco parlamentar” no Paraguai.
Integração latino americana
O professor Boccia Paz disse que a Operação Condor foi o início “vergonhoso” de um processo de integração regional na América Latina, que culminou, anos mais tarde, na formação do Mercosul. Conforme o professor, os países passaram por cima de disputas regionais importantes e se uniram para coordenar a repressão aos opositores dos regimes ditatoriais. “O Condor foi uma operação transnacional; o encontro com a verdade também deve ser”, observou.
Paz afirmou ainda que a Condor foi uma operação de muitos silêncios. “A trama complexa internacional era difícil de imaginar em um contexto de repressão.” Segundo ele, apenas em 1979 a operação foi mencionada pela primeira vez publicamente, por um jornalista do Washington Post. “Porém, entre os serviços de inteligência dos países envolvidos, a operação era amplamente conhecida”, explicou.
De acordo com o jornalista e escritor Luiz Cláudio Cunha, com o programa repressivo transnacional “a velha e informal troca de informações entre ditaduras camaradas” ganhou método e hierarquia. Vítima da operação, o jornalista assumiu a tarefa de tornar público o programa. “A Condor voou com intensidade entre 1975 e 1980”, informou. “Com ela, surgiu a angustiante figura do desaparecido, nem morto nem vivo, que isentava o Estado de explicações e justificativas”, complementou.