Guerra põe pressão sobre Comissão da Verdade

Confissão de ex-delegado do DOPS de ter matado adversários da ditadura, praticado atentado a bomba contra o estadão e operado crematório para presos políticos reabre debate sobre limites da anistia; David Capistrano (à esq.) perdeu a mão antes de morrer; Fleury foi assassinado pelo Cenimar, na versão dele, já acusado de autopromoção para vender livro

O ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra, que revelou uma série de crimes da ditadura no livro recém-publicado “Memórias de Uma Guerra Suja” (Topbooks), está disposto a confirmar assassinatos, atentados a bomba e incineração de corpos à Comissão da Verdade. Ele também admitiu aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, autores da publicação, ter sido o responsável por um atentado contra o jornal O Estado de S.Paulo, em 14 de novembro de 1983. À época, um carro-bomba explodiu no estacionamento do veículo de comunicação. A informação foi publicada na coluna Poder Online, do jornalista Tales Faria, do portal iG.

Guerra também assume a participação em vários outros crimes, como o atentado contra o Riocentro, o assassinato de Alexandre Von Baugarten e a incineração de pelo menos dez corpos de militantes executados em uma usina de açúcar no Estado do Rio de Janeiro.

De acordo com reportagem do O Globo, o Ministério Público Federal já investiga quatro das mortes relatadas por Cláudio Guerra, entre elas a do comunista David Capistrano da Costa, que também teria sido incinerado na usina de Heli. O relato de Guerra bate com as informações do MP, a exemplo da mão de Capistrano, que foi arrancada, conforme o relato do ex-delegado.

À Comissão, ele promete não poupar nomes de comparsas e de mandantes dos crimes. Em um vídeo de divulgação do livro, o ex-delegado admite por que decidiu reaparecer e falar sobre tudo: “Isso me atormentou durante muito tempo porque eu sei que as famílias devem ainda ter até hoje aquela esperança de saber o destino de seus entes queridos. Se eu tive coragem de fazer, eu tenho que ter coragem de assumir os meus erros”.

O livro também deve trazer uma nova versão para a morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury, quem, segundo a versão de Guerra, foi morto por agentes do Cenimar, o Centro de Informações da Marinha (leia mais). Um dos autores do livro, Rogério Medeiros, disse em entrevista ao iG que o ex-delegado está pronto para reaparecer, assim que for convocado a depor na Comissão da Verdade.

 

Fonte – Brasil 247

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