Continuou: “Certamente altas patentes militares sabem que essa comissão não tem caráter punitivo. Então por que a mera divulgação os incomoda tanto? Há hipóteses. A otimista seria que tem vergonha do que fizeram. Mas a pessimista, ou realista, é: existe um gozo na teoria psicanalista, que é o gozo proibido. Tão sem freios que no limite é mortífero”.
Usando o exemplo de Sade, prosseguiu: “A pessoa que esta diante do corpo inofensivo dispondo dele a seu bel-prazer, está gozando”. Kehl tem em seu histórico a demissão do jornal Estado de São Paulo por ter publicado na véspera das eleições de 2010, um artigo “Dois pesos…”, onde defendia a candidatura de Zé Serra e batia naqueles que desqualificavam os votos dos mais humildes. Seu currículo é rico:foi editora do jornal Movimento, que disputava com o Pasquim e Opinião o segmento independente na Ditadura. Sua tese de mestrado na USP “O papel da Rede Globo e das novelas da Globo em domesticar o Brasil durante a Ditadura Militar”, tornou-se fonte de consulta.
A Comissão foi criada com a finalidade de: “Examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos entre 1946 e 1988, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”. Pretende analisar casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres.
A comissão foi composta pessoalmente pela presidenta, contemplando personalidades com diferentes posicionamentos políticos, participações antagônicas e a sua instalação foi prestigiada pelos ex-presidentes, como FHC, que clamou ser a “Reconciliação Nacional” seu objetivo – todavia, tudo pode ocorrer.
A posição de Kehl é pessoal, contudo, os estudos de Ori e Rom Brafman mostram que as pessoas do contra e a divergência de posições em um colegiado são indispensáveis, amadurecerão o seu trabalho;mas a contribuição de Hannah Arendt,sobre a Banalidade do Mal, será um realidade a ser enfrentada com conseqüências imprevisíveis.
Fonte – Gazeta de Alagoas