De acordo com o irmão de Fernando, o advogado e vereador olindense Marcelo Santa Cruz, a iniciativa de Abrão é positiva e vem num momento em que a família recebeu as primeiras notícias sobre o destino do corpo do seu irmão. Segundo o relato do ex-delegado no livro, Fernando e outros nove mortos sob tortura tiveram seus cadáveres incinerados – sob seu comando – num dos fornos da usina Cambahyba, no município de Campos, norte do Rio de Janeiro. “Um simples pedido de desculpas do governo não é suficiente. Vamos aproveitar para cobrar uma ampla investigação, tendo como roteiro esse livro do ex-delegado. Afinal, é a primeira vez que algum agente da repressão decide contar os fatos”, disse Marcelo, que estará presente à sessão da Comissão da Anistia, dia 22, juntamente com seus irmãos e o filho de Fernando, Felipe Santa Cruz. A mãe do estudante, dona Elzita Santa Cruz – considerada um símbolo da resistência dos familiares de mortos e desaparecidos no País – não poderá comparecer, mas enviará uma carta que será lida na sessão. Outro processo da pauta é de Anivaldo Padilha.
Comissão Nacional de Anistia julga amanhã processo de estudante pernambucano
A Comissão Nacional de Anistia (CNA) se reúne no próximo dia 22 para julgar o processo de anistia do estudante pernambucano Fernando Santa Cruz, desaparecido no Rio de Janeiro em fevereiro de 1974. Após as revelações feitas pelo ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra – que lançou este mês o livro Memórias de uma guerra suja, no qual confessa a participação em centenas de mortes, inclusive a do estudante pernambucano –, o secretário nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, enviou carta aos familiares de Fernando Santa Cruz convidando-os para a sessão da comissão, na qual lhe será concedida a anistia, incluindo um pedido formal de desculpas do governo brasileiro pela sua morte.