Um mês da morte de Maria Célia Vilela

Morreu, dia 27 de abril, Maria Célia Vilela.

Pessoalmente não fui próximo e com ela sequer tinha amizade.

Mas, por  conta da pesquisa para o livro sobre a organização de esquerda “Ação Popular” que estou terminando de preparar, conheci a Maria Célia que viveu num tempo em que mulheres valentes ensinavam a homens quando era preciso ser homem.

Na resistência à ditadura e na luta pelo socialismo ela não foi um quadro revolucionário, mas nem por isso menos importante.

Maria Celia era uma pessoa próxima da AP, fazia parte da logística da organização, abastecendo com dinheiro, roupas e alimentação seus militantes e dirigentes. Mas junto do suprimento necessário ela entregava também a sua ternura.

Um dia, ela conheceu em São Paulo Jair Ferreira de Sá ou Dorival, principal dirigente da AP, que a procurou não para conversar sobre a linha, estratégia e tática política da AP.

Dorival pediu a Maria Celia que fizesse companhia a Umberto Câmara Neto, porque o ex-diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE) e militante da AP estava solitário, quase depressivo. A partir de então ela passou a almoçar, ir a cinema, passear e jogar conversa fora com o militante fragilizado. Não havia discussão política, mas apenas a solidariedade, vermelha.

Em setembro de 1973, Maria Célia foi presa por agentes do DOI-CODI paulista, então comandado pelo carniceiro torturador e oficial do exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Os torturadores não tinham sobre o que interrogá-la e por isso não tocaram num fio do seu cabelo, mas não tiveram limites na tortura psicológica: os ratos de pelo cor de oliva e de porrete na mão a deixavam nua e obrigavam-na a assistir as torturas físicas contra sua irmã, cunhado e amigos.

Carregando no ventre o seu primeiro filho, a mulher enfrentou com coragem as atrocidades na masmorra da brutalidade.

Por isso tudo cheguei a conclusão na minha pesquisa que, além de uma boa esposa, mãe, tia, irmã e amiga, Maria Célia também foi mulher especial. Uma das tais.

 

Um abraço a todos,

Otto Filgueiras

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