Os 80 anos da Revolução Constitucionalista

No mês em que se celebram os 80 anos da Revolução Constitucionalista, a Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN) publica uma série de artigos que discutem aspectos pouco lembrados do movimento que opôs o Estado de São Paulo ao governo de Getúlio Vargas.

Segundo artigo de Ilka Stern Cohen, “Revolução! Precavenha-se fazendo suas compras da margarina Elza…” Esta propaganda, estampada no Diário Nacional em 1930, mostra como a perturbação da ordem invadia o cotidiano do país naquela época. De fato, entre 1920 e 1930, a ideia de revolução permeava o debate político e pairava sobre a sociedade brasileira. Militares demonstraram sua contrariedade em 1922 e em 1924, ao marcharem contra o governo federal, e um grupo de rebeldes militares percorreu o país em nome da revolução entre 1925 e 1927. Nas grandes cidades, o descontentamento de parte da população se manifestava em greves e inquietação.

Publicado no segundo semestre daquele ano, o anúncio de margarina permite compreender o clima do momento: uma sucessão presidencial complicada, a duvidosa vitória da situação e os insistentes boatos de revolução, que se concretizaram finalmente no golpe político-militar que destituiu o presidente Washington Luís e suspendeu a ordem constitucional. O grupo que se instalou no poder – liderado por Getulio Vargas – fechou as câmaras legislativas estaduais, dissolveu os partidos e substituiu os presidentes dos estados por interventores federais.

Os maiores derrotados pelo golpe foram os políticos que se alternavam no poder de modo a se perpetuarem no governo do país. Desde o início do regime republicano, esses grupos mantinham o controle do processo eleitoral, com destaque para os Partidos Republicanos de Minas Gerais e de São Paulo, imediatamente desalojados.

Os artigos desta edição abordam temas como as causas do conflito e a adesão da população, que mobilizou homens e mulheres e até a imprensa, a importância da atuação de tropas nortistas no apoio a Vargas, que levou à derrota dos “rebeldes paulistas”, a influência da propaganda no engajamento popular e os marcos e mitos que sobrevivem até hoje. Contribuíram para o dossiê os historiadores Ilka Stern Cohen, Raimundo Helio Lopes, Luiz Alberto Grijó, entre outros. O especial traz ainda uma entrevista com a pesquisadora e especialista no assunto Vavy Pacheco Borges.

Também é destaque na edição um perfil da Marquesa de Santos, que revela o lado político e pouco conhecido da famosa amante de D. Pedro I. Militante ativa, a marquesa sobreviveu a uma tentativa de homicídio, casou-se mais de uma vez e engajou-se em diversas lutas, como a Revolução Liberal de 1842. A publicação inclui ainda artigo sobre os riscos da mineração, atividade que desde o século XVII vitima milhares de pessoas no Brasil.

Lançada em 2005, a Revista de História da Biblioteca Nacional é a única em seu segmento editorial especializada em História do Brasil e traz, a cada mês, reportagens e artigos assinados por importantes historiadores e sociólogos. A publicação, que tem patrocínio da Petrobras, é mensal e vendida em bancas de todo o país.

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