Jorge Tarso de Souza disse à Comissão da Verdade de Pernambuco que não havia planejamento para matar o braço direito de dom Helder
Na primeira sessão pública da Comissão Estadual da Memória e Verdade, Jorge Tarso de Souza prestou depoimento sobre a morte do Padre Henrique. Foto: Teresa Maia/DP/D.A.PressEm um depoimento histórico, mas sem novas informações, a Comissão da Memória e da Verdade em Pernambuco saiu na frente da Comissão Nacional e realizou, ontem, a primeira audiência pública com um personagem que foi testemunha dos crimes cometidos pelo aparelho repressivo do regime militar do Brasil (1964-1985). Em depoimento aos membros do grupo, o ex-delegado Jorge Tarso de Souza jogou mais lenha na “fogueira” do caso do padre Henrique, assassinado em 1969 e considerado o braço direito do arcebispo de Recife e Olinda, dom Helder Camara. A tese polêmica referendada por ele seria de que não havia planejamento para o assassinato do religioso e que o crime foi cometido “por acaso”.
“A intenção inicial era dar um susto em dom Helder Camara. Mas alguém acabou fazendo isso… Tanto é que depois deste assassinato, o grupo parou de fazer grandes atentados”, disse Tarso. A argumentação foi logo contestada por membros do colegiado, como o advogado Gilberto Marques, que relembrou que o padre foi morto com dois tiros precisos na cabeça, um bem perto do outro. “Como você mata sem querer uma pessoa com dois tiros na cabeça?”, ironizou o especialista em direito, levantando também as discussões em torno do tipo de armamento e a distância na qual os disparos forma efetuados.
Outro depoimento de Jorge de Tarso que chamou a atenção foi que ele teria assumido um posto de destaque na polícia (uma delegacia na capital) e encontrou no birô do então delegado e promotor do Ministério Público Bartolomeu Gibson, também relacionado como um dos réus, um pedaço de corda, o que lhe chamou a atenção. Então, ele pegou o fragmento e juntou ao pedaço encontrado junto ao corpo de padre Henrique. “Juntei, e as duas cordas se encaixavam”, contou friamente, afirmando ainda que era uma pessoa “non grata” pelo Departamento de Ordem Polícia e Social (Dops). As provas coletadas por ele foram entregues a representantes da Polícia Federal, mas foram perdidas.
“Bartolomeu Gibson era o mandachuva do Dops e fez o que pôde para atrapalhar as investigações do crime”, denunciou. Basta assinalar que Jorge de Tarso, antes de ingressar na polícia, ajudou na investigação do caso, já que era irmão do assistente de acusação Fernando Tarso. Inclusive, no primeiro inquérito foi convocado pelo magistrado Aluízo Xavier numa consulta, com cinco pessoas, e todos atestaram que Rogério Matos (apresentado como braço direito de Bartolomeu), preso posteriormente por outro crime, seria o culpado.
O ex-deputado e membro da Comissão da Verdade, Pedro Eurico, também destacou que, apesar das duas investigações (ambas prescritas na Justiça), o depoimento do ex-delegado ajudou a comprovar as ligações do aparelho de estado com o crime, além de verificar que havia uma relação estreita do Dops com o então Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
Fonte – Diário de Pernambuco