Comissão da Verdade vai investigar caso do navio-prisão de Corumbá

Após o golpe de 64, mais de 40 militantes, políticos e religiosos acusados de subversão foram detidos em um navio-prisão da Marinha do Brasil, ancorado no município de Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia. O coordenador-geral do Comitê da Verdade, Memória e Justiça de Mato Grosso do Sul, Lairson Ruy Palermo, alerta que ainda há testemunhas vivas deste episodio pouco conhecido dos brasileiros.

Um dia após o golpe militar de 31 de março de 1964, militantes, políticos e religiosos acusados de subversão foram cassados em suas residências e locais trabalhos no pequeno município sul-matogrossense de Corumbá (a 444 Km da capital Campo Grande), encravado em meio ao pantanal, na fronteira com a Bolívia. Nada diferente do que acontecera em vários outros locais do Brasil, não fosse o fato de que eles foram presos em um navio-prisão cedido pela Marinha do Brasil.

A denúncia do caso, ainda desconhecido dos brasileiros, chegou à Comissão Nacional da verdade (CNV) na primeira audiência pública promovida pelo grupo, em Brasília (DF), nesta segunda (30). “Nós queremos saber realmente o que aconteceu neste navio. Há denúncias de que mais de 40 presos foram levados para lá e de que alguns deles foram até torturados”, afirma o coordenador-geral do Comitê da Verdade, Memória e Justiça de Mato Grosso do Sul, Lairson Ruy Palermo.

Ex-militante do PCdoB que sofreu três prisões durante a ditadura, Palermo ressalta que é preciso conhecer o contexto histórico de Cuiabá para entender a gravidade desta violação aos direitos humanos. “Criada em 1600, numa região de disputa de fronteira, Corumbá sempre congregou muitos militantes comunistas argentinos, paraguaios, bolivianos e brasileiros. Por isso, foi considerada alvo prioritário do regime ditatorial”, afirma.

O coordenador-geral destaca que há pressa em apurar e recontar a verdade histórica sobre o navio-fantasma, porque a maioria das testemunhas já faleceram e tudo o que resta do episódio é a memória oral de alguns poucos sobreviventes. Entre eles o administrador aposentado Waldemar Dias de Rosas, de 78 anos, ex-vereador de Corumbá à época, que passou 30 dias no navio-prisão. Ele já prestou depoimento ao Comitê de MS e é o proprietário do único registro fotográfico que se tem conhecimento do episódio.

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