Ex-alunos homenageiam estudantes desaparecidos no regime militar

Com o objetivo de homenagear os alunos desaparecidos na Universidade de Brasília durante o regime militar e repudiar a tortura, um grupo de ex-alunos vai realizar o ato “Tortura não tem perdão”. A homenagem vai acontecer no dia 9 de novembro, às 10h, no auditório Dois Candangos e está sendo organizada com apoio da Comissão da Memória e Verdade Anísio Teixeira e da Comissão UnB 50 anos.

Idealizado por ex-estudantes da UnB durante o regime militar, o ato contará com depoimentos e exposição de fotos e documentos. Serão convidados a participar do ato a Ordem dos Advogados do Brasil, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, o Comitê da Verdade do Distrito Federal e ex-alunos da Universidade que vivenciaram e foram punidos pela repressão militar.

O ex-estudante da UnB Álvaro Lins começou a articular, junto com outro ex-aluno, Aldir Nunes, o ato de homenagem aos três estudantes desaparecidos durante o regime militar: Honestino Guimarães, Ieda Santos Delgado e Paulo de Tarso Celestino. Paulo de Tarso e Ieda, que foram estudantes do curso de Direito, desapareceram em 1971 e 1974, respectivamente.

Reconhecido como liderança estudantil, Álvaro, foi preso duas vezes entre 1968 – ano em que entrou na Universidade para fazer o curso de Física – e 1969, quando foi jubilado. “O Azevedo, reitor da época, forçou meu jubilamento. Eu estava preso quando houve a prova de recuperação e o Azevedo não aceitou essa justificativa para que eu fizesse a prova em outro momento”, conta. Álvaro terminou por não concluir o curso de graduação. Atualmente trabalha com marketing político.

EXPULSÃO

Durante o regime militar, iniciado em 1964 e encerrado em 1985, foram excluídos da UnB 58 estudantes, segundo dados que constam da obra, ainda inédita, Paixão de Honestino, de Betty Almeida. “Houve duas grandes levas de expulsão de estudantes na UnB. A primeira, por meio do decreto 447, ocorreu em 1969. A segunda, em 1976”, conta Betty, ex-estudante de Química da UnB e integrante do Comitê da Verdade do DF. Ela entrou na Universidade em 1967 e, depois de presenciar três invasões policiais na UnB, pediu transferência para o Rio de Janeiro.

Segundo Betty, o ex-reitor da UnB José Carlos de Almeida Azevedo foi responsável pela exclusão de 56 do total de estudantes afastados. Azevedo assumiu a função de vice-reitor da UnB em 1968. Em 1976, assumiu o cargo de reitor, que exerceu até 1985.

A ideia da homenagem aos alunos desaparecidos foi apresentada nesta terça-feira, 18 de setembro, ao reitor José Geraldo de Sousa Junior. Participaram da reunião, além de Álvaro e Betty, outros ex-alunos da UnB durante o período militar: Eustáquio José Ferreira Santos e o professor da Faculdade de Comunicação Hélio Doyle, além do coordenador de relações institucionais da Comissão Memória e Verdade da UnB, professor Cristiano Paixão.

O grupo de ex-alunos da UnB que organiza a homenagem adotou o nome “Da Oca ao Centro Olímpico” por uma motivação histórica. “Oca era o nome do alojamento onde ficavam os estudantes naquele período do regime militar, e o Centro Olímpico ficou marcado pela intervenção policial de agosto de 1968?, conta o arquiteto Eustáquio Santos.

A ideia de homenagem aos desaparecidos foi encampada pelo reitor José Geraldo. “Essa é uma boa iniciativa, que ajuda a fortalecer a Comissão da UnB e integra a programação de celebração dos 50 anos da Universidade”, afirmou o reitor.

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