CCC recebia dinheiro público na ditadura

Integrantes do grupo ganhavam incentivos fiscais, revela major à Comissão da Verdade

Recife O major PM José Ferreira dos Anjos revelou ontem, em depoimento à Comissão da Verdade e da Memória, em Pernambuco, que integrantes do chamado Comando de Caça aos Comunistas (CCC) foram beneficiados com recursos públicos provenientes de incentivos fiscais jamais aplicados nos empreendimentos aos quais eram destinados.

Denunciado como um dos envolvidos no assassinato do procurador da República Pedro Jorge dos Santos, o major foi condenado a 32 anos de prisão, em 1982. Foi ainda investigado pelo envolvimento no assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, assessor do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara; e pelo atentado contra o líder estudantil Cândido Pinto, ambos em 1969.

Ferreira revelou apenas o nome de dois integrantes do CCC, o empresário Roberto Souza Leão (já falecido) e um tal Severino, do qual se recorda apenas o apelido, Biu do Álcool. Integrante assumido do CCC, Souza Leão era criador de cavalos da raça westfalen.

A paixão pelos cavalos aproximou-o, segundo Ferreira, do ex-presidente Figueiredo.

– A amizade dele com o presidente terminou lhe rendendo um bom dinheiro. Por influência de Figueiredo, Roberto teve acesso a recursos da Sudene para implantar uma destilaria na Bahia. Mas a indústria nunca saiu do papel – revelou, acrescentando que Biu do Álcool era protegido do general Antônio Bandeira e, por esse motivo, vivia do contrabando de álcool, sem ser incomodado.

O major negou ter participado do assassinato do padre e do atentado contra o estudante. Preso em 1983 pelo assassinato do procurador da República, fugiu da cadeia com a ajuda de militares.

Foi recapturado em 1996 e, em 2003, recebeu indulto. Após o assassinato do padre Antônio, o militar foi enviado a um curso nos Estados Unidos.

Mas segundo um membro da comissão, Pedro Eurico de Barros, temendo o resultado do inquérito, o então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, solicitou ao Serviço Nacional de Informações (SNI) um relatório sobre o caso.

O relatório foi preparado por um grupo de assessores especiais que intercedeu junto ao promotor José Yves para impedir o andamento do inquérito.

A ordem, segundo o documento, ao qual a comissão teve acesso, era aguardar ordens do Ministério da Justiça, para “impedir o desastroso desenlace do processo”.

O major informou que 80% do efetivo do Doi-Codi eram formados por homens recrutados nas polícias militares estaduais que tinham a missão “de matar ou morrer”. Em Pernambuco, eram selecionados pelo então comandante da 7ª Região Militar, general Ednardo D”Ávila Melo.

– A gente não discutia as ordens que vinham dos generais, só fazia cumprir – afirmou o militar, no depoimento de mais de cinco horas.

O major acrescentou que o CCC foi muito atuante no estado, mas extrapolava em suas ações, a ponto de preocupar os militares.

 

Fonte – O Globo

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