“O dia que durou 21 anos” retrata ditadura no País pelo viés americano

Documentário de Camilo Tavares está na mostra competitiva da Première Brasil do Festival do Rio. Diretor teve acesso a documentos que comprovam ligação dos EUA com militares

Cena do documentário “O Dia que durou 21 anos”

Assunto já largamente debatido no cinema, a ditadura militar ganha nova abordagem dentro da mostra competitiva de documentários da Première Brasil do Festival do Rio . O grande trunfo de “O dia que durou 21 anos”, entretanto, está em buscar respostas para o regime instaurado no Brasil de 1964 a 1985, a partir de telegramas confidenciais, gravações, fotos e documentos do embaixador americano Lincoln Gordon com os militares brasileiros.

O filme, exibido na tarde de domingo (30), no cine Odeon, centro do Rio, foi bastante aplaudido ao longo de seus quase noventa minutos. Se por um lado o tema ditadura sempre foi encarado com paixão por ambos os lados envolvidos, “O dia que durou 21 anos” consegue não se deixar levar por esta névoa de convicções acaloradas ao relatar de que forma a Casa Branca se mexeu para impedir a dominação da esquerda no Brasil e a consequente propagação dos ideais comunistas. Não é todo dia que assiste a americanos falando abertamente sobre esta fase tumultuada na América Latina.

A partir da saída do poder do presidente João Goulart, Camilo Tavares narra (com seu pai, o jornalista Flávio Tavares, responsável pelas entrevistas) como órgãos de propaganda traçaram, sem medir esforços, metas para convencer a população de uma ameaça comunista em plena polêmica da reforma agrária. Além da qualidade estética dos quadros e de áudios da época, “O dia que durou 21 anos” prende a atenção ao impor o tom de clima conspiratório na narrativa, dando um ar de novidade a um assunto por tantas vezes já debatido.

A partir de documentos de Lincoln Gordon, por exemplo, se afirma que os Estados Unidos já estavam preparados com sua frota na costa brasileira para apoiar os militares caso o governo então vigente resistisse no poder. O que, como se sabe, não aconteceu. O documentário traz à luz ainda o surpreendente semblante de normalidade das autoridades americanas ao relatarem de que forma apoiaram o golpe militar. Além de uma aula de história, é um novo registro às páginas que todos já se acostumaram a ler.

Estavam presentes à première o diretor Nelson Pereira dos Santos, o escritor Eric Nepomuceno e Maria Prestes, ex-mulher de Luis Carlos Prestes.

Veja a lista dos longas que competem na Première Brasil, na categoria de documentário:

-Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle
-Hélio Oiticica, de César Oiticica Filho
-Jards, de Eryk Rocha
-Margaret Mee e a Flor da Lua, de Malu De Martino
-O Dia Que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares
-Ouvir o Rio: Uma Escultura Sonora de Cildo Meireles, de Marcela Lordy
-Rio Anos 70, de Maurício Branco e Patrícia Faloppa
-Satyrianas, 78 Horas em 78 Minutos, de Daniel Gaggini, Fausto Noro e Otávio Pacheco
-Sobral – O Homem Que Não Tinha Preço, de Paula Fiuza

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