“Nós conseguimos ter uma universidade de pesquisa. A UnB foi interceptada, mas propagou e contaminou as ideias. A universidade pode ter sido interrompida, mas as grandes ideias não são interrompidas”, disse, em referência ao livro A Universidade Interrompida: Brasília (1964-1965) do físico Roberto Aureliano Salmeron, que trata sobre as perseguições aos docentes e alunos da UnB, iniciada desde o primeiro mês do golpe militar (abril de 1964).
Salmeron, com 90 anos, foi homenageado nesta quarta-feira pelo ministério e pela própria UnB e relançou seu livro (escrito em 1999). O físico foi o primeiro coordenador-geral dos Institutos Centrais de Ciências e Tecnologias da universidade e é considerado, ao lado de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, um dos fundadores da UnB. “Tinham vários generais, mas o general de campo era Salmeron”, disse Raupp, ao elogiar a liderança “sonhadora e realista” do físico, que se desligou da UnB como forma de protesto, junto com 222 professores, em setembro de 1965.
O episódio da saída dos professores e as perseguições políticas na universidade durante a ditadura militar estão sendo investigadas pela Comissão de Memória e Verdade da instituição, recentemente instalada. Para Salmeron, a comissão desempenha papel fundamental. “Há uma frase que apendi e gosto de dizer: ‘um povo que não conhece a sua história, corre o perigo de repeti-la’. Isso que está acontecendo, de divulgar para a nova geração o que ocorreu no período ditatorial é extremamente importante. Isso faz parte da educação de todos os dias”, disse à Agência Brasil.
No livro relançado, Salmeron narra a criação da universidade, trata das violências e apresenta documentos da época. Entre eles, um depoimento prestado por ele a uma comissão parlamentar (em novembro de 1965) onde defende a universidade.
Segundo o ministro Raupp, as perseguições na UnB eram alimentadas pela ideologia anticomunista dos tempos da Guerra Fria. “No regime militar, havia um preconceito contra a esquerda. Os militares conservadores achavam que a esquerda estava aí para subverter a ordem. Era a visão do inimigo interno. Visão da Guerra Fria e que o movimento comunista era um movimento internacional e que setores internos contribuíam para os inimigos externos sabotando as atividades. Essa concepção é que favoreceu essa dicotomia entre o regime militar e a esquerda. Em outros aspectos, devia até ter uma convergência, como o nacionalismo, mas eles brigavam até a morte por causa dessa concepção ideológica.”
O ministro será convidado pela Comissão de Memória e Verdade da UnB para falar a respeito das perseguições políticas e o ambiente da universidade.
Fonte – Agência Brasil