O genocídio dos índios waimiri-atroari ocorreu entre os anos de 1972 e 1975, durante a implantação de projetos políticos e econômicos da ditadura militar
O ex-missionágio e indigenista Egydio Schwade é um dos que denunciou o genocídio (Clóvis Miranda)O Comitê Estadual da Verdade, Memória e Justiça no Amazonas vai protocolar hoje, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Manaus, Adrianópolis, Zona Centro-Sul, o relatório que responsabiliza a ditadura militar pelo crime de genocídio de 2 mil índios waimiri-atroari, entre os anos de 1972 e 1975.
O documento será entregue ao representante da Comissão Nacional da Verdade, Gilney Viana. De acordo com fontes históricas, pesquisas e relatos de pessoas, contidos no ‘relatório-denúncia’, o massacre aos indígenas ocorreu durante a construção da BR-174 (Manaus/Boa Vista) e a exploração das riquezas minerais no município de Presidente Figueiredo, a 107 quilômetros de Manaus.
Na observação do indigenista e ex-missionário Egydio Schwade, 77, os indígenas foram os povos mais duramente atingidos em toda a região amazônica pelos projetos políticos e econômicos da ditadura militar.
O ex-missionário destacou ainda que os crimes cometidos durante as ‘correrias’ – expedições de matança de índios que ocorreram até o final da década de 1970, especialmente no Sul do Amazonas e no Acre -, estavam ocultos.
De acordo com Egydio Schwade, entre os povos mais duramente atacados em ‘correrias’ citam-se os kaxinawa e os madiha no Acre e os juma no Sul do Amazonas.
Agentes públicos
Ele ressaltou que muitos dos episódios de ‘correrias’ tiveram a participação direta de agentes públicos. “Os crimes contra os povos indígenas não devem ser esquecidos, embora desencadeados desde antes do governo militar, se acirraram durante o mesmo devido à negligência, acobertamento e incentivos fiscais concedidos a latifundiários interessados na morte dos índios”, pontuou o ex-missionário.
Questionado quanto à possível punição de culpados no episódio que envolveu os wamiri-atroari, Egydio Schwade disse que a comissão fez o dever de casa e espera que medidas cabíveis sejam tomadas.
“Chegou o momento de a sociedade tomar providências pela memória de um povo que sempre lutou pela liberdade, agora as providências cabem à Justiça”, completou.
Projeto
O projeto de construção da BR-174, que era defendido pelo governador do Amazonas, Danilo Aerosa, começou em 1968. A obra passaria por dentro do território dos indígenas, que não foram consultados e se opuseram aos empreendimentos.
Nos anos 80, após a repercussão internacional das mobilizações contra os impactos causados pela Hidrelétrica de Balbina, o Banco Mundial condicionou o financiamento da obra, que alagou terras dos waimiri-atroari, à criação de um programa de mitigação da sua população.
O programa começou a ser implementado em 1988, com duração de 25 anos, sob a gestão da Eletronorte. O prazo expira em 2013. Após a implantação, o povo waimiri-atroari voltou a crescer.
Documentos
O Relatório à Comissão Nacional da Verdade, Memória e Justiça, contém documentos sobre as táticas de guerra, instrumentos utilizados e a ocultação dos fatos ligados ao extermínio do povo waimiri-Atroari.
Denúncias
O indigenista e ex-missionário Egydio Schwade, desde 2011, passou a divulgar artigos em seu blog, o http://urubui.blogspot.com.br, sobre os episódios que envolveram a violenta ocupação das terras indígenas no Estado.
Silêncio
A reportagem de A CRÍTICA entrou em contato com o Exército, por meio da 12ª Região Militar (RM), para que os militares pudessem comentar o caso, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Fonte – A Crítica