Ditadura Militar: Comissão da Verdade vai ouvir empresários

Em audiência pública, realizada nesta segunda-feira (22), em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, um dos sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, disse que a comissão vai ouvir o depoimento de empresários para apurar da participação de empresas no financiamento de órgãos de repressão durante o regime militar.

“Essa é uma questão extremamente delicada, mas que nós estamos, com muita cautela, apurando para valer”, disse ele. Segundo Dias, a comissão prefere ainda manter em sigilo as empresas que estão sob o foco das investigações.

“É como um inquérito policial: o segredo é alma do negócio. Se eu começar a anunciar que temos elementos contra tais e tais empresas, é claro que – para usar uma expressão bem vulgar – mela”, disse Dias, que é advogado criminalista.

Perguntado se está nos planos da comissão ouvir empresários, Dias disse: “Claro, nós iremos ouvi-los na medida em que formos apurando”.

O advogado disse não ter certeza sobre a participação de empresas de Minas Gerais no financiamento de ações ou órgãos repressores que cometeram crimes contra militantes anti-regime, como houve em São Paulo com a Operação Bandeirante (Oban), que recebeu recursos de empresas privadas para caçar e torturar militantes – muitos acabaram mortos.

O ex-ministro disse, no entanto, que acha que empresas de Minas também ajudaram a financiar a tortura. “A contribuição era no sentido global. É claro que quando o dinheiro era entregue ao DOI-CODI, não era obrigatoriamente para ser gasto só com a tortura de São Paulo, mas onde fosse necessário”, disse ele. “Esse é um dos pontos que é objeto do trabalho da comissão: apurar a participação desses financiadores da repressão e da tortura.”

Dias se reúne nesta terça-feira (23) com o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB). Representantes da comissão já tiveram encontros nos governos de São Paulo e de Pernambuco para obter a cooperação dos Estados na abertura de todos os documentos referentes ao período analisado pela comissão. Segundo Dias, Anastasia já adiantou por telefone que a comissão poderá contar a boa vontade do governo e franquear à comissão acesso aos documentos de posse do governo.

Além de Dias, participaram da audiência pública na UFMG outras duas integrantes da comissão: a psicanalista Maria Rita Kehl e a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha.

 

Fonte – Valor Econômico

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