Alvo de ‘escracho’ processa manifestantes

Estudantes fizeram atos públicos para acusar médico de colaboração com torturadores

Seis membros do Levante Popular da Juventude estão sendo processados em Aracaju (SE) pelo médico José Carlos Pinheiro após participarem de dois “escrachos” -manifestações públicas- para divulgar que ele teria colaborado com torturadores durante a ditadura militar.

Nas manifestações, os estudantes divulgaram que o médico teria participado de sessões de tortura com a função de examinar o estado de saúde das vítimas e avaliar até que ponto elas suportariam os atos de violência.

Em nota, Pinheiro negou que tenha colaborado direta ou indiretamente com atos de tortura: “Minha formação ética e humanista não se compadece com o auxílio a qualquer atividade de tortura”.

Na queixa-crime, o médico acusa os jovens de calúnia. O advogado que defende os manifestantes, João Paulo Santana, afirma que eles se basearam em relatos de ex-presos políticos que teriam sido torturados na presença de Pinheiro, como o ex-vereador Marcélio Bonfim.

Em 1989, Bonfim fez um pronunciamento na Câmara Municipal de Aracaju em que citou o nome de três médicos que teriam acompanhado as sessões de tortura às quais foi submetido -entre eles José Carlos Pinheiro.

No depoimento, Bonfim relata que, a cada agressão, Pinheiro “auscultava para conferir o sofrimento e até que ponto o ser humano aguentava as torturas”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o ex-vereador.

Pinheiro atribui as acusações a um “tremendo engano” e afirma ter sido confundido com outra pessoa. Diz ainda que, na ocasião, ingressou com uma ação penal contra o político, mas que a Justiça arquivou o caso.

Questionado sobre o motivo da queixa contra os estudantes, Pinheiro disse que eles “foram os autores do crime de injúria, que ofendeu incisivamente a minha honra subjetiva”.

‘ESCRACHOS’

O Levante Popular da Juventude realiza desde 2011 “escrachos” em frente à residência ou local de trabalho de suspeitos de participação em sessões de tortura.

A estudante Jessy Dayane Santos, 23, que está entre os processados por Pinheiro, diz que o objetivo dos atos é expor publicamente nomes que colaboraram com a ditadura.

“Todo mundo sabe quem foram os torturados. Mas os torturadores são pessoas bem de vida e vivem como se nada tivesse acontecido”, disse.

 

Fonte – Folha de S.Paulo

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