Os documentos foram entregues à polícia pela família do coronel reformado e estão em poder do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Na terça-feira, serão entregues para a Comissão Nacional da Verdade. Os documentos, que têm sido mantidos em sigilo, trazem ainda informações importantes sobre a prisão e morte do deputado cassado pela ditadura Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos e cuja morte foi negada pelos militares.
O “acervo” de Molinas estava guardado em sua casa e foi entregue pela família depois de sua morte. O coronel reformado tinha um arsenal com mais de vinte armas e, segundo as investigações, foi atacado por ladrões que tentavam roubar esse armamento. Foi morto com 15 tiros.
Para o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke, a “minutagem” e os despachos internos do Exército “oficializam” a ação do comando do DOI-Codi na explosão da bomba no Riocentro. A bomba seria atribuída pelos militares a uma ação de terrorismo de esquerda, mas acabou explodindo no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário. No ano passado, o GLOBO revelou que Rosário levava no bolso da calça uma pequena agenda telefônica, com os nomes reais de militares e civis que atuaram na tortura do regime militar.
— Molinas passa a fazer o registro da ocorrência, com a contagem dos minutos, a partir da explosão da bomba, que foi acidental. Faz isso porque a estratégia fugiu do controle. Os outros dois despachos mostram que o próprio material da bomba foi fornecido pelo Exército e que a sobra foi devolvida para o quartel. São documentos muito reveladores, importantes para esclarecer como o episódio está ligado ao centro de comando do aparelho de repressão do estado — disse Krischke.
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Folha publica que governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), prepara para a semana que vem um ato político de entrega à Comissão da Verdade de cerca de cem folhas encontradas nos arquivos pessoais de um coronel que chefiou o DOI-Codi, um dos órgãos da repressão no regime militar. Conforme a Folha mostrou na terça-feira passada, material recolhido pela Polícia Civil na casa do militar reformado Júlio Miguel Molinas Dias pode elucidar o caso Rubens Paiva e o atentado ao Riocentro, em 1981. Dias foi morto a tiros no início do mês na capital gaúcha. Nos documentos, há um ofício de 1971 informando a chegada à sede do DOI-Codi no Rio do ex-deputado Rubens Paiva, um dos mais conhecidos desaparecidos políticos do regime militar. O Exército sempre negou a responsabilidade pelo desaparecimento. A única prova da presença de Rubens Paiva em dependências militares eram testemunhos. Segundo a Casa Civil do governo Tarso, os documentos não devem ser tornados públicos já no evento. Antes, eles passarão pela análise da Comissão da Verdade Estadual, criada para municiar com informações o grupo federal. Os papéis estão guardados reservadamente com a Polícia Civil. Tarso disse ontem em uma reunião que os documentos comprovam que Paiva foi sequestrado e “covardemente assassinado” pela ditadura, em suas palavras. O jornal “Zero Hora” reproduziu anteontem termos do documento, que informa com quais pertences o engenheiro chegou à divisão militar. O ofício, diz o diário, afirma que a equipe responsável por trazê-lo era do Centro de Inteligência da Aeronáutica. Contém ainda uma assinatura que pode ser do ex-deputado. O delegado Luís Fernando de Oliveira, responsável pelo recolhimento do material, diz que nada consta nos papéis que comprometa o coronel. No material também há relatórios sobre fatos após a explosão no Riocentro. Em 1981, uma bomba explodiu acidentalmente em um carro que levava dois militares durante um show do Dia dos Trabalhadores.