Livro traz versão de militares sobre ação armada da esquerda

Prefácio de “Orvil” afirma que revanchistas da esquerda estão no poder e tiveram “petulância” de criar uma “comissão da verdade”

O livro não cita as torturas praticadas pelos militares e diz que o país vivia um “Estado de Direito” na ditadura

“Orvil” parece nome de remédio, mas é apenas “livro” escrito ao contrário, o nome exótico pelo qual o projeto era conhecido no Exército Brasileiro para ajudar a mantê-lo secreto enquanto uma comissão o escrevia.

O livro ficou pronto em 1985, mas o então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, e o presidente José Sarney optaram por não publicar a obra para não criar constrangimento político.

Disponível na internet há anos, agora surge a primeira edição de papel do “orvil/livro” que conta uma versão de militares do Exército sobre as “tentativas de tomada do poder” pela esquerda no Brasil.

A atual edição, da editora Schoba (R$ 72,90, já disponível nos sites das livrarias), promete ser ainda mais polêmica, embora a publicação não tenha apoio oficial das Forças Armadas.

O texto básico é o mesmo, mas há trechos novos de introdução e conclusão que remetem ao momento presente, quando existe uma Comissão da Verdade com a missão de apurar crimes cometidos por agentes estatais no regime militar.

São mais de 900 páginas detalhando miríades de ações da esquerda armada que o livro rotula de “terroristas”.

Três das tentativas de tomada do poder foram “armadas”, diz o livro, escrito por uma equipe do antigo Centro de Informações do Exército e assinado por dois dos organizadores, o tenente-coronel Licio Maciel e o tenente José Conegundes do Nascimento.

As três foram a Intentona Comunista de 1935, a crise que terminou no golpe de 1964 e o início da “luta armada” a partir de 1968.

A quarta continuaria em curso hoje: em vez de violência, diz o livro, as esquerdas empregam a infiltração na imprensa, nas universidades, nas instituições culturais em geral para impor suas teses, seguindo os ditames do comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937).

 

PETULÂNCIA

“Os revanchistas da esquerda que estão no poder -não satisfeitos com as graves restrições de recursos impostas às Forças Armadas e com o tratamento discriminatório dado aos militares, sob todos os aspectos, especialmente o financeiro- tiveram a petulância de criar, com o conluio de um inexpressivo Congresso, o que ousaram chamar de “comissão da verdade””, diz o general Geraldo Luiz Nery da Silva no prefácio ao livro.

Coordenador de projetos de história oral do Exército, o general de brigada é membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.

A publicação é pródiga em detalhes sobre os atentados e as tentativas de criação de “focos” de guerrilha, urbana e rural. Muitas fontes são livros e entrevistas de pessoas da esquerda. “Insuspeitos”, ironizam.

Um fato que chamou a atenção dos autores é a fragmentação dos grupos de esquerda. Em vez de se unirem contra o inimigo comum, se esfacelaram numa lista interminável de organizações -e o “Orvil” cita detalhes de todas. E isso foi uma das razões do fracasso da “luta armada”.

 

LISTA

O livro dá os nomes de todos os “terroristas” envolvidos em cada atentado, ou no planejamento deles, ou no apoio à sua logística.

A presidente Dilma Rousseff é citada três vezes no texto, numa delas dizendo que tinha sido presa.

O livro não diz em nenhum momento que as forças policiais e militares cometeram torturas (a morte de Vladimir Herzog é considerada suicídio) e diz que eleição de um general à Presidência pelo Congresso era sinal da existência do “Estado de Direito”.

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