Lideranças políticas responsáveis não têm o direito de agir como aprendizes de feiticeiro
O País assiste, perplexo, ao desenrolar de uma nova crise política como desdobramento de um clima de tensionamento que alcança níveis extremamente preocupantes. Os novos desdobramentos têm como fulcro denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio da Silva por um condenado da Justiça que, após sete anos de silêncio, tenta, presumivelmente, beneficiar-se com uma delação premiada.O mal-estar não advém da iniciativa, em si, de um condenado – talvez, desesperado diante do que o aguarda -, mas da facilidade com que se dá crédito à sua palavra, repercutindo-a de maneira retumbante e definitiva, antes que provas sejam apresentadas. No mínimo, a cautela é recomendável porque a presunção da inocência é um dos pilares do Estado Democrático de Direito (muitas vezes, quando se demonstra a inconsistência de alguma denúncia, a reputação do visado já está sob sete palmos de terra), mas, sobretudo, por se tratar da reputação de um ex-chefe de Estado e de Governo amplamente respeitado pela maioria esmagadora do povo brasileiro e pelos meios políticos mundiais.
Temos a obrigação de aprender com a História e não permitir que o clima político desande para uma situação incontrolável. Não é pelo fato de alguns membros do PT terem ajudado a criar a atual arapuca que se deva deixar que as coisas evoluam para uma situação de impasse ou causadora de grande divisão no País. A nação não quer voltar ao clima de confronto fratricida das décadas de 1950 e 1960, quando as paixões políticas capturaram o livre jogo democrático e as instituições terminaram pagando por isso. As lideranças políticas responsáveis não têm o direito de agir como aprendizes de feiticeiro
O Brasil tem sido um exemplo, na América Latina, de transição pacífica para a democracia. E um dos principais responsáveis por isso foi justamente o ex-presidente Lula, reconhecidamente o mais destacado líder popular dos últimos tempos, cujo espírito de conciliação possibilitou transformações que em outros países custaram guerras civis. No mínimo, deve ser tratado com respeito e dignidade.
As gerações mais velhas têm a obrigação de repassar às jovens a forma de ler os “sinais dos tempos” para que possam identificá-los e agir preventivamente quando embutem armadilhas capciosas.