O município de Mato Grosso que mais sofreu no período do Regime Militar, entre os anos de 1964-1985, trouxe de volta a cidade personagens com história da resistência aos anos de chumbo. Cáceres, cidade do Oeste do Estado, recebeu o jornalista Thaelman de Almeida, cujo pai Edgard de Almeida era apontado como um dos mais influentes lideres da esquerda na época dos “anos de chumbo”. O evento de recepção, organizado pelo jornalista Airton Montecchi e pelo professor Paulo Fanaia, ambos cacerenses, reuniu filhos e amigos de Cáceres.
Além de Thaelman, chegaram juntos o cantor Emerson Dorado e o servidor publico Antonio Isidório Silva Filho, o “Tonico”. Os dois são natural de Cáceres, mas residem em São Paulo. Emerson é irmão mais novo do economista Enio Dorado, outro militante de esquerda que se opunha ao regime ditatorial. Enio chegou a ser preso no Congresso de Ibiuna (SP), sendo liberado meses depois num dos porões da Ditadura no estado da Bahia.
Cáceres é considerada o berço da guerrilheira Jane Vanini, que exilada no Chile, com a queda de Salvador Alliende, foi assassinada pelas tropas do ditador Augusto Pinochet.
Thaelman confirma as atividades políticas do pai. Ele revela que sempre acompanhada Edgard a uma colônia que o Governo militar implantava, distribuindo terras à quem se dispusesse ocupá-las. “E, meu pai tinha “contatos” naquela região como parte de seu trabalho político do desenvolvimento de uma guerrilha rural. Assunto altamente sigiloso naquele tempo” – conta.
Mas tiveram que fugir. “No final de 1968, uma vizinha adentra nossa casa com uma revista Veja na mão, indagando se aquele que ela apontava na foto não era meu pai. Minha mãe a convenceu que não. Era uma matéria intitulada “Terror e reação”, que tratava de terrorismo e sobre a morte do capitão Raimond Chandler em São Paulo. Procuravam o comandante dos “atos terroristas.” Acusavam Carlos Marighella, Brizola e meu pai” – relata o jornalista.
Ele conta que o filho de um coronel da cidade comunicou sua irmã que agentes do serviço secreto do Exército procurava por seu pai. “Abandonamos a casa com móveis e alguns objetos nossos, que não pudessem localizar-nos. Saímos da cidade, passamos por Cuiabá, Campo Grande, Penapólis até chegarmos em São Paulo eu , minha irmã e minha mãe, assim como fomos. Encontramos com meu pai na capital paulista” – descreve.
O municipio que faz fronteira com a Bolivia, até por volta de 1985, mantinha um serviço de informação do Exercito Brasileiro com uma tranca na extremidade da Ponte Marechal Rondon que liga das duas rodovias federais 070 e a 174, todos que cruzavam a essa ponte tinham minuciosa revista por parte dos militares e um álbum com fotos de “subversivos” eram comparados. (vide relato de Thaelman durante a sua estadia em Mato Grosso 1967 até 1969).
Fonte – 24 Horas News