Sete meses depois da instalação da Comissão Nacional da Verdade, integrantes do grupo se reuniram pela primeira vez com os três comandantes militares. Foi no início de dezembro, a sete chaves e sob sigilo rigoroso. A reunião, um almoço no Ministério da Defesa, foi costurada pelo ministro Celso Amorim. Um diálogo difícil para os militares, que, na cerimônia de maio no Palácio do Planalto, quando da criação da comissão, recusaram-se a aplaudir o evento.
O Ministério da Defesa confirmou o encontro, mas os comandos de Exército, Marinha e Aeronáutica não se pronunciaram. Pela Comissão da Verdade compareceram o coordenador Cláudio Fonteles, ex-procurador-geral da República; Paulo Sérgio Pinheiro, ex-ministro dos Direitos Humanos; e Rosa Cardoso da Cunha, ex-advogada de presos políticos, entre eles a presidente Dilma Rousseff.
Foi um encontro e uma conversa sem sobressaltos, mas marcado pela firmeza dos dois lados. A Comissão da Verdade cobrou documentos dos arquivos oficiais. Os militares, por sua vez, sugeriram que os pedidos do grupo que investiga crimes da ditadura sejam mais específicos, menos genéricos.
— Não foi um encontro formal, mas foi um diálogo franco e tudo posto com muita tranquilidade. Com equilíbrio. Mas colocamos com muita clareza que uma experiência ditatorial não pode se repetir no país — disse Cláudio Fonteles.
Do lado da Defesa, além dos três comandantes militares — Enzo Peri (Exército), Juniti Saito (Aeronáutica) e Júlio de Moura Neto (Marinha) — e de Amorim, compareceu também o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi. Os militares afirmaram que há boa vontade em localizar documentos e o propósito é de colaboração. Segundo eles, não há restrições ao trabalho da comissão e nem resistência a convocações de oficiais do passado para prestarem depoimento ao grupo.
Para amenizar a conversa, os membros da comissão lembravam que os militares de hoje não são os mesmos da ditadura. Um tema que incomoda os militares não foi tocado: a apuração de crimes cometidos por militantes da esquerda. Essa é a principal cobrança de integrantes da reserva que se manifestam, e se incomodam, com a comissão.
Fonteles avaliou como positivo o primeiro ano de trabalho do grupo, que tem até maio de 2014 para apresentar seu relatório. Ele cita três exemplos de resultado efetivo do trabalho com a participação da comissão: a devolução simbólica de mandatos de deputados cassados; o surgimento de documentos sobre o desaparecimento de Rubens Paiva; e a mudança no atestado de óbito de Vladimir Herzog, que passou a constar como causa da morte “lesões e maus-tratos sofridos durante interrogatório em dependência do 2º Exército (Doi-Codi)”.
Fonte – O Globo.