Homenagens a agentes da repressão na mira

Fórum quer trocar nomes de ruas e espaços que homenageiem pessoas ligadas à ditadura

Integrantes do fórum, ontem, na Câmara: memória revista (foto: Franklin de Freitas)

Criado para apoiar os trabalhos da Comissão da Verdade, instituída em 2011 pela presidente Dilma Rousseff para apurar denúncias de violação de direitos humanos durante o governo militar, o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça quer rever homenagens prestadas a agentes da repressão, mudando nomes de ruas e espaços públicos do Estado que façam referências a torturadores ou pessoas ligadas à ditadura. A lista inclui os ex-presidentes Emílio Garrastazu Médici (1969-74) e Ernesto Geisel (1974-79), que ainda hoje dão nome a escolas e outros equipamentos públicos no Paraná.

A proposta faz parte de um projeto que pretende ainda resgatar a história da luta pela redemocratização do País, prestando homenagem aos militantes mortos pela repressão. Uma das iniciativas é a criação do “Museu de Percurso”, com totens instalados em pontos da cidade que foram palco da resistência ao governo militar, como o prédio da Reitoria, a Igreja do Guadalupe, que abrigou reuniões clandestinas durante o período, a Boca Maldita, onde foi realizado o comício das “Diretas Já”.

Segundo o jornalista Roberto Salomão, um dos coordenadores do fórum, os pontos para a instalação desses totens já estão definidos e o texto com as informações históricas que devem constar nos mesmos foram enviados no ano passado ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Já os logradouros públicos que trazem nomes de agentes da repressão ainda teriam que serem levantados. Mas basta uma simples pesquisa na internet para revelar a existência de uma escola municipal em Curitiba com o nome de Geisel, e outra estadual em Cianorte, que também traz a alcunha do ex-presidente. “Na minha opinião, isso é inaceitável sob qualquer ponto de vista”, avalia Salomão, citando relatos como o do jornalista Elio Gaspari, na série de livros sobre os bastidores do governo militar, que aponta que Geisel teve conhecimento pessoal da existência de um sistema de repressão que incluía tortura e execuções sumárias durante os governos militares. “Nossa ideia é não só tirar os nomes dos torturadores, mas homenagear as pessoas mortas pela ditadura”, explica ele.

O fórum esteve ontem em visita à Câmara Municipal, onde pediu apoio do presidente da Casa, vereador Paulo Salamuni (PV), para acelarar a implantação dessas propostas. “A Câmara vai trabalhar junto com o Fórum. Nos interessa ao máximo o resgate desta história, primeiro pelo reconhecimento da resistência, segundo para que a ditadura nunca mais se repita.

Memorial — O Fórum quer criar ainda o Memorial da Resistência, um espaço que disponibilize para a cidade um material completo, incluindo fotos, documentos, filmes e livros sobre o período da ditadura militar. No ano passado, durante a passagem da 63ª Caravana da Anista a Curitiba, o fórum promoveu o que chamou de “Caminhos da Resistência”, marcando provisoriamente locais como a Praça Rui Barbosa, utilizada pela ditadura militar para prender temporariamente opositores ao regime. Outros quatro marcos de memórias foram sinalizados no antigo presídio do Ahú, e os locais de resistência, a Boca Maldita, Reitoria e prédio Histórico da UFPR,onde o movimento estudantil lutou contra o regime militar e a violação dos direitos humanos.
Outro ponto utilizado pela ditadura seria a chamada Clinica Marumbi, local de tortura contra os militantes presos no Paraná durante a Operação Marumbi. A clinica, segundo alguns relatos de ex-presos políticos, ficava na antiga veterinária do Exercito, ao lado do Shopping Curitiba.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *