Em entrevista realizada ontem, com a presença de Vera Paiva, filha de Rubens, Fonteles disse que dois desses integrantes da equipe do DOI-CODI do I Exército no Rio estão vivos e poderão ser convocados. Um terceiro está morto, disse, sem citar nomes.
A Comissão da Verdade não tem poder para puni-los, mas, na opinião de Fonteles, os militares não poderão se negar a comparecer à comissão sob pena de cometerem o crime de desobediência.
Documento desmente versão de fuga de Rubens Paiva, diz Comissão da Verdade
Documento inédito mostra como Rubens Paiva foi preso
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Livro sobre Rubens Paiva deve ser lançado neste ano
Fonteles divulgou ontem texto de sua autoria em que analisa documentos sobre o caso Paiva encontrados durante suas pesquisas no Arquivo Nacional, em Brasília.
Os papéis mostram que um informe confidencial, revelado pela Folha na segunda-feira, desmonta a versão da fuga de Paiva e indica que ele morreu no prédio do DOI-Codi do Rio.
A versão divulgada pela ditadura foi a de que Paiva conseguiu escapar das mãos dos militares quando era levado para reconhecer um imóvel no Rio.
Mas o Informe nº 70, que detalha ao Serviço Nacional de Informações (SNI) como o ex-deputado foi localizado e preso, com data de 25 de janeiro de 1971, não faz menção à suposta fuga de Paiva –que, segundo a versão do Exército, teria ocorrido três dias antes, na madrugada de 22 de janeiro daquele ano.
JULGAMENTO
Na entrevista, Vera Paiva afirmou ser um “privilégio para a sua família o fato de ser um dos primeiros casos recuperados pela Comissão da Verdade”.
“Traz um alívio profundo em recuperarmos a memória, mas ainda gostaríamos de saber quem e como o torturaram e mataram.”
Para ela, caso sejam identificados os autores, a família “aguardará a iniciativa dos operadores do direito para tomar providências”.
“O crime de tortura é imprescritível. Gostaríamos que os autores tivessem um julgamento, com amplo direito de defesa e diante da lei, exatamente o que eles não fizeram pelo meu pai.”
Vera convocou a população brasileira a entregar documentos e informações para a comissão, sob a proteção do anonimato, para ajudar “a refazer a história do Brasil”.
“Em nome das famílias, algumas que sofreram ainda mais, e ainda não conseguiram respostas peço que sejam entregues qualquer documento com informações. Essas histórias devem ser contadas por museus por todo o país.”
ESTÁTUA
A entrevista foi convocada pelo Ministério da Educação, que não tem ligação formal com a Comissão da Verdade.
O ministro da Educação, Aluizio Mercadante, explicou que todos presentes no evento, inclusive ele, estudaram na USP (Universidade de São Paulo) e eram amigos de Vera e da família Paiva.
Mercadante definiu como “grande serviço” o trabalho da Comissão no caso Rubens Paiva. Também presente no evento, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que o espaço Rubens Paiva, na Câmara dos Deputados, ganhará uma estátua em homenagem ao ex-deputado.
Fonte – Folha de S.Paulo