Argentina à beira de uma ditadura

Sem sombra de dúvidas, a Argentina é o país  de maior grau de politização da America Latina. É uma  sociedade bem informada e tem participado ativamente em todos os movimento sociais que por lá pipocam.  Os recentes movimentos de massa da população pela insatisfação da política da presidente Cristina Kirchner deixa um ponto de interrogação no país vizinho. As manifestações que se tem visto pela mídia demonstram um descontentamento generalizado sobre as políticas que estão sendo implementadas no país. A forma sui generis desenvolvida do panelaço pacífico bem demonstra o grau político da sociedade do nosso vizinho.   

As poderosas centrais sindicais Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA) e a Central Geral dos Trabalhadores (CGT) a tempo vem enfrentando uma quebra de braço com o governo de Cristina. O arrocho fiscal pela retirada de certas vantagens de benefício social, em outras épocas suportáveis, agora tem forte resistência das massas graças ao alto grau político da sociedade.

Alem do panelaço, as centrais estão ocupando as principais entradas da cidade (Buenos Aires) para paralisar totalmente a circulação dos bens necessários à sociedade num confronto  aberto  com o governo.  O braço do grupo dos caminhoneiros ligados à CGT pretende paralisar a economia. Outros setores importantes da economia aumentam o caldo de insatisfação contra Cristina, como serviços municipais, bancos, postos de gasolina, taxista e outras categorias.

O congelamento de preços para redução da inflação (extraoficialmente em 25% ao ano), onde o poder de compra da classe média e baixa está se deteriorando — através do corte de incentivos fiscais —permitirá ao Estado recolher mais para si. Dinheiro retido esfria inflação tirando de circulação parte do consumo mensal do trabalhador. O desemprego está indo para as nuvens. Para manter o equilíbrio fiscal, o governo vem cortando diversos subsídios, diretos e indiretos, concedidos em outras épocas (transporte público, por exemplo), que criou falsa impressão de desenvolvimento social e econômico. O controle artificial do câmbio, pela supervalorização do peso, estatização de empresas, novas concessões de benefícios sem sustentabilidade, são medidas de curto prazo para apagar  incêndio. Este é o cenário de endividamento público estratosférico. Este filme já foi visto na Grécia.

A deterioração da economia, principalmente no comércio internacional, pela suspensão generalizada de importações — inclusive do Mercosul — está levando a uma condição econômica insustentável. Como consequência, o mercado financeiro internacional começa virar as costas para o país.

O setor industrial está em extinção, justamente o que mais emprega, ficando o país cada vez mais dependente da produção agrícola para exportação. Agricultura não é uma grande absorvedora de mão de obra e de baixo valor agregado. Logo o kirchnerismo está empurrando a nação para um beco sem saída.

A paciência dos cidadãos está se esgotando, as manifestações estão cada vez mais violentas, pressionando Cristina, que não consegue mais esconder as dificuldades de administrar as necessidades da sociedade.

Recentemente, tem havido saques em diversas cidades do país, aflorando o desespero das pessoas. Os saques de 2001 por comida agora foram além pelo  vandalismo, pela insatisfação. O governo está perdendo as rédeas, com risco de uma anarquia social. O tecido social começa a entrar em colapso. Para complicar, Cristina (popularidade de 36%) comprou uma briga com a imprensa através da Lei de Mídia. Com este calderão será difícil completar seu mandato, e Cristina será forçada a renunciar, abrindo caminho para uma ditadura. Em qualquer direção, de direita ou de esquerda, será um retrocesso político.

 

Fonte – Jornal do Brasil

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *