Comissão Nacional da Verdade vai se reunir com 6 comissões estaduais que estão em funcionamento e com outros parceiros na investigação das violações de direitos humanos
A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro não existe na prática. Até hoje não teve os nomes dos sete integrantes escolhidos pelo governador Sérgio Cabral
Aprovada há quatro meses pela Assembleia Legislativa, a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro não existe na prática. Até hoje não teve os nomes dos sete integrantes escolhidos pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), o que tem gerado protestos de parlamentares e grupos de direitos humanos. Na próxima segunda-feira (25), em Brasília, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) vai se reunir com as seis comissões estaduais que estão em funcionamento e com outros parceiros na investigação das violações de direitos humanos no período de 1946 a 1988.
Os Estados que não têm comissões próprias foram convidados para a reunião e serão estimulados a criar os grupos de trabalho. Como a comissão estadual não saiu do papel, o Rio será representado pela subsecretária de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos, Andréa Sepúlveda.
“Há muito tempo lutamos pelo resgate dos anos de chumbo no Rio de Janeiro, mas o governador Sérgio Cabral tem destinado muito pouca atenção a essa questão. O Rio viveu muita violência nos períodos totalitários e teria muito a contribuir”, diz a psicóloga Vera Vital Brasil, ex-presa política, integrante do Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça e do Fórum de Recuperação e Memória do Rio de Janeiro.
A Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos informou que até a próxima semana será encaminhada ao governador a minuta do decreto que regulamenta a comissão estadual. O secretário Zaqueu Teixeira vai sugerir que o advogado Wadih Damous, ex-presidente da OAB-RJ, seja nomeado presidente da comissão.
As instituições de direitos humanos reunidas no Coletivo RJ indicaram seis nomes para compor a comissão, entre os quais do procurador de Justiça aposentado e ex-deputado Antonio Carlos Biscaia, do sindicalista e ex-suplente de senador Geraldo Cândido e da historiadora Jessie Jane.
“O governador Cabral tem uma trajetória positiva na luta pelos direitos humanos e é contraditório que a comissão não tenha sido instalada até hoje. O Rio de Janeiro teve muitos casos de desaparecidos políticos, como Rubens Paiva e Fernando Santa Cruz, entre tantos outros, e também locais de tortura como a sede do DOI-Codi na Tijuca e a Casa da Morte em Petrópolis”, afirmou o deputado Gilberto Palmares (PT), integrante da base do governador e um dos autores da lei estadual que criou a comissão local de investigação.
Palmares lembrou as dificuldades para aprovar a lei na Assembleia, depois de seis tentativas, frustradas por manobras dos parlamentares contrários à proposta. O deputado Flávio Bolsonaro (PP), filho do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), foi um deles. “É uma comissão que já tem desfecho pronto, quer manchar a imagem dos militares. Eles não admitem o contraditório. A demora na implementação comprova que a comissão é desnecessária. Apresentei várias emendas, como a que incluía representantes dos clubes militares entre os integrantes da comissão, mas nenhuma foi aprovada”, reclama Bolsonaro.
Fonte – Exame