Comitê estadual articula visita da Comissão da Verdade ao Amazonas

Grupo quer divulgar nova versão do massacre dos índios Waimiri-Atroari. Comitê atribuiu morte de milhares de indígenas ao regime militar.

Em novembro do ano passado, o Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas entregou relatório para procurador da República do Ministério Público Federal e em dezembro a Comissão Nacional da Verdade (Foto: Divulgação/MPF)

Após a entrega do relatório no final do ano passado, o Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas articula a vinda de representantes da Comissão Nacional da Verdade ao Estado. A visita tem como meta o acompanhamento das investigações do genocídio de mais 2 mil índios da etnia Waimiri-Atroari no período da ditadura militar.

Segundo o presidente estadual do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e integrante do Comitê, Luiz Navarro, desde conclusão da entrega do relatório em dezembro de 2012, houve paralisação das investigações, direcionando os trabalhos do grupo à articulação da vinda da Secretaria Nacional da Comissão da Verdade.

O assunto foi tratado em uma reunião realizada na última segunda-feira (25) em Manaus, mas deve ser discutido novamente no encontro previsto para ocorrer em Brasília na próxima segunda-feira (4), dessa vez entre os integrantes do Comitê Estadual e da Comissão Nacional. Já a visita ainda não tem data prevista para ocorrer.

“Precisamos consolidar a denúncia que foi feita da chacina dos milhares de índios Waimiri-Atroari pela ditadura militar. Nós sentimos que essa denúncia necessitava de todo empenho e dedicação da Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas. Essa proposta de reunião com representantes da Comissão Nacional da Verdade e do Ministério Público em Manaus, servirá para divulgar e consolidar a denúncia do massacre dos índios. Queremos que esse fato não caia no esquecimento, porque foram ceifadas as vidas de milhares de indígenas em nome de projeto de mineração”, revelou o representante.

Navarro explicou que o foco do Comitê Amazonense é mobilizar a Comissão Nacional da Verdade para acompanhar a investigação no Estado, objetivando que providências necessárias sejam tomadas.

O relatório, que conta com mais de 100 documentos anexados e mais de 200 documentos referenciados, aponta o desaparecimento de mais de 2 mil integrantes do povo indígena Waimiri-Atroari e estabelece a relação da construção da BR-174 com o massacre dos índios. O caso aconteceu a 200 km de Manaus, na Reserva Waimiri-Atroari, localizada no município amazonense de Presidente Figueiredo.

“O relatório está cheio de documentos reais e verdadeiros que comprovam o extermínio dos índios. Além de relatos de membros da Funai [Fundação Nacional do Índio] e de índios. Essa investigação serve para conscientizar a sociedade que não se deve permitir esses atos, que a instalação de ditadura num país proporciona esse tipo ato injusto contra a população. Não podemos permitir que isso volte acontecer”, enfatizou Luiz Navarro.

 

Descoberta

Em novembro de 1968, os índios da etnia Waimiri-Atroari foram apontados pela ditadura militar responsáveis das mortes do padre João Calleri e dos nove mateiros que o acompanharam nas negociações com os indígenas. Para o Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas, o religioso foi propositadamente exposto ao perigo. De acordo com Luiz Navarro, a morte do padre Calleri foi utilizada pelo regime militar como justificativa para massacrar os índios, tendo como principal finalidade um suposto projeto de mineração das terras da Reserva Waimiri-Atroari.

“Os proprietários das mineradoras precisavam da área para mineração e como eram amigos dos ‘reis’ conseguiram apoio do regime militar. Alguns incentivos foram dados ao padre Calleri, que errou na condução da pacificação indígena para que eles pudessem dizimar os índios. Esse erro foi incentivado pelos detentores do poder. A morte do padre Calleri foi preparada, ele foi jogado como comida para as onças”, afirmou o integrante do Comitê da Verdade, Memória e Justiça Estadual.

 

Fonte – G1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *