Ex-preso político e militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo) nos anos 1970, Artur Machado Scavone gravou em 19 de fevereiro o quinto depoimento à Comissão da Verdade da OAB/RJ, que investiga arbitrariedades cometidas pela Justiça Militar e pelo Ministério Público Militar durante a ditadura militar.
Scavone foi preso em 24 de fevereiro 1972, no bairro do Itaim Bibi, São Paulo. Ficou no Doi-Codi desde a prisão até meados de novembro. “Após nove meses, fui levado para o presídio Tiradentes. Retornei ao Doi-Codi, no segundo semestre de 1973, quando meu processo já estava indo a julgamento na Auditoria Militar, e essa volta foi muito estranha”.
Segundo o relato, em meio à tensão de estar na unidade militar, em uma cela separada, “como era comum aos presos recentes”, Scavone pôde ver pela janela o magistrado que o julgou, Nelson Machado Guimarães, entrando no pátio do Doi-Codi e se dirigindo à área onde ocorriam os interrogatórios. “Logo em seguida, fui chamado para a sala de torturas, e deu-se um diálogo absurdamente esquisito, em que perguntaram se eu havia de fato realizado todas as ações que constavam do meu depoimento”.
Diante da presença do juiz no prédio e do fato de que as perguntas não buscavam informações novas, Scavone avaliou que o magistrado estava ouvindo o depoimento de outra sala, com o objetivo de avaliar se as declarações tinham sido obtidas sob tortura. “Respondi então que eles sabiam que os depoimentos lá eram dados sob tortura, e que se quisessem a verdade eu diria. Após esse diálogo, fui mandado de volta para a prisão. Acredito que a presença do juiz tinha o objetivo de saber se o meu depoimento era verdadeiro ou falso”.
Fonte – OAB/RJ