LIBERAÇÃO DE ARQUIVOS DO DOPS REVELA O PAPEL DE LACERDA NA LUTA ARMADA

 

49 ANOS DO GOLPE MILITAR LIBERAÇÃO DE ARQUIVOS DO DOPS REVELA O PAPEL DE LACERDA NA LUTA ARMADA

Lacerda, o Gringo, foi cabeça da Corrente

Registros no Arquivo Público de Minas destacam papel significativo do atual prefeito de BH no grupo armado, até com participação em assalto a banco

Se Conceição e Gilney não frequentam o noticiário de hoje, um colega de luta da Corrente Revolucionária é bem conhecido dos mineiros. Pelo nome completo ou pelo seu codinome, Gringo, os agentes da repressão tentavam identificar o atual prefeito de Belo Horizonte nas ações do grupo.

 

“Marcio Araújo de Lacerda (codinome Gringo) é acusado de ter participado como instrutor de treinamento de guerrilha e também como o elemento que forneceu o transporte para os militantes da Corrente para o local de treinamento onde fizeram exercício de tiro”, relata um agente da repressão em um dos documentos disponíveis no Arquivo Público de Minas Gerais.

Lacerda é citado nos depoimentos e relatórios da Secretaria de Estado de Segurança Pública e do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Ele também é destacado pelos colegas de luta contra o regime e por pesquisadores que se dedicaram especificamente ao grupo de belo-horizontinos dissidentes do Partido Comunista Brasileiro como “muito importante para o movimento”.

Nos arquivos mais antigos do acervo mineiro, quando a polícia ainda investigava quais eram os integrantes do grupo revolucionário e quais os propósitos da Corrente, Gringo é “acusado de ter participado de uma reunião da organização denominada Corrente em frente à igreja da Floresta em que discutiam os planos da organização”. Posteriormente, os relatos são mais enfáticos quanto à participação dele. “Marcio Araújo de Lacerda, que era integrante da organização clandestina subversiva denominada Corrente, que tinha o objetivo da derrubada do poder pela luta armada”.

As menções ao prefeito também são feitas em Inquéritos Policiais Militares referentes à Corrente, ao todo, oito. “No dia 31 de março, às cerca de 17h, Marcio Araújo de Lacerda, dirigindo o automóvel, encontrou-se com os demais membros da `gang´. Permaneceu no volante quando os demais assaltantes adentraram na referida agência bancária e com armas em punho imobilizaram os funcionários”, registra o policial em um dos depoimentos denominados de “Termo de Inquisição” de Marco Paulo. Esse nome não consta na lista de integrantes da Corrente.

A agência bancária a que fazem referência é identificada como “Caixa Econômica Estadual”, na avenida Alfredo Balena, no bairro Santa Efigênia. Naquele dia, os integrantes da Corrente não conseguiram abrir o cofre da agência, segundo o relato, e levaram apenas o “numerário” que estava em um armário.

 

MICROFILMES

Acervo da ditadura militar no Arquivo ainda vai crescer

O Arquivo Público de Minas Gerais recebeu, em 25 de fevereiro, mais 23 caixas de documentos em microfilme da Polícia Civil e do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) relativos ao período de 1982 a 2000 que ainda não estavam disponíveis. A transferência foi feita por decreto do governador Antonio Anastasia em 31 de janeiro. A digitalização, porém, ainda levará alguns meses para ser concluída.

De acordo com o diretor de conservação de documentos do Arquivo, Pedro Brito Soares, em cada rolo de microfilme existem cerca de 3.500 páginas de documentos. Brito diz ainda que, em relação aos anos de regime, grande parte se refere ao processo de redemocratização, uma vez que o mais antigo é de 1982.

“Metade dos rolos são de cópias dos originais para não correr o risco de que sejam danificados de forma permanente”, explicou.

Segundo a diretora de gestão de documentos do Arquivo Público, Aparecida Cordoval, o processo de digitalização dos documentos, em si, é rápido. “O que demora mesmo é a indexação (divisão por temas ou nomes) e a organização dos documentos”, detalhou. (LA)

 

Quatro anos preso em JF

Além do apelido de Gringo, consta nos documentos do Arquivo Público de Minas a referência a “Humberto”, outro codinome que foi adotado pelo atual prefeito naquela época. Ele foi preso em 1969, dois anos depois da fundação da Corrente Revolucionária, e ficou por quatro anos na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora, na Zona da Mata.

 

Digitalização mais rápida

Um novo equipamento que está prestes a chegar ao Arquivo Público de Minas irá acelerar a digitalização dos microfilmes que contêm documentos.

De acordo com o diretor de conservação, Pedro Brito, o escâner de produção de 16 milímetros será capaz de codificar os materiais em uma hora. O equipamento custou 150 mil dólares. Além dos acervos da Polícia Civil, os arquivos recebidos do Conselho Estadual de Direitos Humanos também serão digitalizados pelo novo aparelho.

Segundo Aparecida Cordoval, diretora de gestão, os documentos ainda estão sob análise, pois parte deles só poderá ser vista com requerimento, por serem “sigilosos”. (LA)

 

 

Fonte – O Tempo

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