Comissão da Verdade faz audiência para investigar caso Panair

É primeiro caso de empresa prejudicada pela ditadura a ser analisado; companhia aérea perdeu a licença em 1965

 

Avião da empresa aérea brasileira Panair, fechada em 1965 e que será alvo de investigação da Comissão da Verdade (CC/Panair do Brasil)

 

Pela primeira vez, a Comissão Nacional da Verdade vai analisar o caso de uma empresa prejudicada pela ditadura. No próximo sábado (23), uma audiência pública no Rio de Janeiro será dedicada ao caso da Panair, companhia aérea brasileira que perdeu a licença em 1965 e nunca mais pôde voar.

“A extinção da Panair, a demissão de seus funcionários, a perseguição sofrida pela companhia, impedida de voar, não constituem apenas uma grave violação dos direitos dos empresários sócios, mas de todo o corpo de funcionários e da própria sociedade, que perdeu os serviços de uma empresa exemplar”, comenta Rosa Cardoso, integrante da comissão, que participará da sessão juntamente com o coordenador, Paulo Sérgio Pinheiro.

Serão colhidos dados, depoimentos e documentos sobre o caso, que deverá ser incluído no relatório final da CNV, a ser entregue em maio do ano que vem à presidenta Dilma Rousseff. Além de ex-funcionários, estarão presentes herdeiros dos sócios da companhia.

“Fecharam essa companhia porque queriam prejudicar dois empresários que apoiavam o Juscelino Kubitschek”, afirma Rodolfo da Rocha Miranda, filho de um dos donos, em entrevista ao jornal Valor Econômico. “O que justificaria a cassação seria má prestação de serviço, insegurança de voo. Em momento algum a Panair foi acusada disso. Ela tinha a maior estrutura de manutenção do país (Celma, em Petrópolis) e fazia a manutenção de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira)”, acrescentou Daniel Leb Sasaki, autor do livro Pouso forçado: a história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo regime militar, publicado em 2005.

Em 1975, Milton Nascimento e Fernando Brant lançaram a música Saudade dos Aviões de Panair, que tem o subtítulo Conversando no Bar.

Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira

E o motorneiro parava a orquestra um minuto

Para me contar casos da campanha da Itália

E do tiro que ele não levou

Levei um susto imenso nas asas da Panair

Descobri que as coisas mudam e que tudo é pequeno nas asas da Panair

E lá vai menino xingando padre e pedra

E lá vai menino lambendo podre delícia

E lá vai menino senhor de todo o fruto

Sem nenhum pecado sem pavor

O medo em minha vida nasceu muito depois

descobri que minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Panair

Nada de triste existe que não se esqueça

Alguém insiste e fala ao coração

Tudo de triste existe e não se esquece

Alguém insiste e fere o coração

Nada de novo existe nesse planeta

Que não se fale aqui na mesa de bar

E aquela briga e aquela fome de bola

E aquele tango e aquela dama da noite

E aquela mancha e a fala oculta

Que no fundo do quintal morreu

Morri a cada dia dos dias que eu vivi

Cerveja que tomo hoje é apenas em memória

Dos tempos da Panair

A primeira Coca- Cola foi me lembro bem agora

Nas asas da Panair

A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo

nas asas da Panair

Em volta desta mesa velhos e moços

Lembrando o que já foi

Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual

Em volta dessas mesas existe a rua

Vivendo seu normal

Em volta dessa rua uma cidade sonhando seus metais

Em volta da cidade

 

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