Governo do estado criou comissão para investigar casos de tortura. Ex-preso político diz que comissão vai trazer verdade dos fatos.
Governador participou da cerimônia (Foto: Thiago Guimarães / Divulgação Secom-ES)Um período obscuro da história do Brasil pode começar a ser desvendado em terras capixabas. A ditadura militar, instaurada no país em 1964, vai começar a ser investigado pela Comissão Estadual da Memória e Verdade, instituída nesta segunda-feira (25) em Vitória pelo governo do estado. O objetivo é esclarecer e apurar casos de tortura e violação de direitos humanos no Espírito Santo durante o período ditatorial.
Vítima de tortura e perseguição política na ditadura militar, o subsecretário de Direitos Humanos do estado Perly Cipriano, irá acompanhar os trabalhos da comissão. Apesar de ter sofrido na pele as marcas do regime militar, Perly diz que sua participação nos trabalhos da comissão não serão movidos por vingança. “Não se trata de revanche, e sim de esclarecimento de fatos. Sei que muitos de meus torturadores ainda estão vivos, e vamos trazer a verdade. Eu quero contribuir, voluntariamente, como muitos podem fazer”, diz.
A comissão será formada por sete pessoas. O advogado Agesandro da Costa Pereira, a assistente social Eugênia Célia Raizer, o juiz de direito João Baptista Herkenhoff, os professores universitários Júlio Pompeu e Sebastião Pimentel Franco, a jornalista Jeane Bilich e o escritor Francisco Aurélio Ribeiro vão compor a equipe.
Segundo o juiz João Baptista Herkenhoff, a comissão não poderá punir torturadores, mas sim trazer a verdade dos fatos. “Acredito que nossa principal função é descortinar a verdade histórica. Punir torturador não será possível porque o Supremo Tribunal Federal entende que os torturadores foram anistiados pela Lei da Tortura. Entretanto, se não podemos entregar isso à Justiça, podemos proclamar e denunciar”, disse o membro da comissão.
Quem vai acompanhar os trabalhos da comissão é a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (Seadh). “Este será um importante momento para conhecermos a história e a versão daqueles que foram vítimas da repressão política e também dos violadores de direitos humanos. Queremos fazer justiça e honrar a memória dos capixabas mortos e desaparecidos neste período”, frisou o secretário Helder Salomão.
Preso político participa dos trabalhos
O subsecretário de Direitos Humanos, Perly Cipriao, diz que no Espírito Santo havia constantes perseguições a quem era contra o regime militar. “Comecei a militar na política estudantil na década de 1960. Com o golpe, nós, universitários da época, fizemos várias manifestações. Havia sido preso duas vezes já, por pouco tempo, por estes protestos. Em 1970, depois de estudar um tempo na antiga União Soviética, fui para Pernambuco porque era muito perseguido aqui, mas acabei sendo preso e torturado lá por quase dez anos”, contou.
Ainda de acordo com o subsecretário, um foco de atuação da comissão pode ser o desaparecimento de algumas pessoas no período militar. “Aqui no Espírito Santo temos seis desaparecidos políticos. Além disso, outro foco é ver como as instituições se tornaram autoritárias neste período. Universidades, grandes empresas, todas tinham controle de segurança interno, e foram autoritárias”, explicou.
A secretaria reforça que quem tiver documentos, dados, depoimentos e informações sobre o período ditatorial pode contribuir com a comissão também de forma anônima. Investigados também serão chamados para prestar esclarecimentos.
Fonte – G!