Fichas e prontuários do Deops poderão ser acessados pela internet a partir de segunda-feira. Instituição divulgará também os dossiês produzidos sobre Karl Marx, o papa João Paulo 2º, Plínio Marcos e Pelé
Após três anos e meio de trabalho de 70 pessoas, o Arquivo Público de São Paulo disponibilizará em seu site, a partir da próxima segunda-feira, cerca de 1 milhão de documentos sobre ações da ditadura militar no Estado.Fichas e prontuários que antes só podiam ser acessados pessoalmente agora estarão ao alcance de um clique, pelo endereço www.arquivoestado.sp.gov.br.
São papéis do Deops/SP (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), órgão que funcionou de 1924 a 1983 e foi um dos principais braços da repressão do último regime militar (1964-1985). O material inclui ainda documentos do DCS (Departamento de Comunicação Social), criado em 1983 para suceder o Deops e abrigar seus membros.
Há dossiês sobre personalidades consideradas subversivas pela ditadura, como Pelé, o filósofo alemão e ideólogo da esquerda Karl Marx (1818-1883), o papa João Paulo 2º (1978-2005) -considerado comunista por ser polonês- e o dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999).
No caso de Marcos, o prontuário do Deops, de 94 páginas, mostra que ele foi monitorado de 1969 até depois da morte, em 2000, com relato de publicação no “Diário Oficial” de Santos sobre homenagem póstuma ao artista.
A existência dos documentos do Deops de Santos foi revelada em fevereiro de 2010 pela Folha. À época foram achadas 600 caixas, cada uma com dez ou 15 dossiês.
Na vigilância a Pelé, o Deops registrou declarações feitas no Senado em 1977, quando ele disse que o povo brasileiro ainda não estava em condições de votar “por falta de prática e de educação”.
DOCUMENTOS INÉDITOS
A digitalização, que ainda engloba apenas 10% dos registros do Deops e do DCS, incorporou 4.500 imagens de documentos inéditos. “São boletins internos do Deops, que vão de 1952 a 1977 e têm as escalas de serviço dos policiais. Isso ajudará a cruzar informações sobre quem estava trabalhando quando alguém foi preso e desapareceu”, diz Lauro Ávila, diretor de Preservação e Difusão do Acervo do Arquivo Público.
O trabalho foi realizado em parceria com a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça por meio do projeto Marcas da Memória, que distribui recursos para ações de preservação da memória.
“O material do Deops servirá para todos verem a ação deletéria do Estado contra o povo”, disse Carlos Bacellar, coordenador do Arquivo Público. “É a democratização desses documentos. É um marco nesse processo da construção do Estado democrático”, disse Vladimir Sacchetta, presidente da Associação dos Amigos do Arquivo Público de SP, que captou R$ 1 milhão para ajudar na digitalização do material.
Fonte – Folha de S.Paulo