Deops classificava personalidades como comunistas, terroristas e ‘o inteligente’ do grupo
O jornalista e ex-deputado Luciano Lepera aparece na lista.A abertura dos arquivos da Deops (Delegacia Estadual de Ordem Política e Social) pelo governo do Estado no início do mês revela que líderes de movimentos sociais e políticos de Ribeirão Preto eram monitorados durante o regime militar.
Entre os “fichados”, estão os ribeirão-pretanos falecidos: jornalista e ex-deputado Luciano Lepera, o advogado Vanderlei Caixe e o ex-jogador Sócrates.
Também aparece no arquivo o ex-prefeito e atual deputado Welson Gasparini (PSDB), apontado na época como o porta-voz dos usineiros da região de Ribeirão.
A Deops foi criada em 1924 para controlar movimentos políticos contrários aos governos da época. A delegacia foi extinta em 1983, depois de décadas de vigilância.
Comunista, Lepera foi perseguido durante o regime militar. Pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro), venceu as eleições para deputado estadual em 1958. Ele morreu em julho de 2010.
Amigo de Lepera, o aposentado Patrocínio Henrique dos Santos afirma ter sido torturado e preso pela Deops. Isso porque foi considerado como membro de um grupo de terroristas de Ribeirão.
Já o advogado e jornalista Vanderlei Caixe era monitorado pelo regime militar porque era apontado como o “inteligente” da FALN (Frente Armada de Libertação Nacional).
‘Meu pai lutava pela democracia’
Filho do advogado e jornalista Vanderlei Caixe, o coordenador do Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Ribeirão Preto, Vanderley Caixe Filho, afirma que seu pai lutava pela liberdade. “Era o ideal de um grupo. Ele foi um homem que lutou contra um golpe que foi implantado para fazer repressão”, afirma.
Caixe foi preso em 1969 por ter sido comprovada a sua participação na FALN. Ele morreu em novembro de 2011.
Arquivo aberto
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) abriu neste mês para consulta na internet o acervo da Deops. Foram divulgados 274.105 fichas e 12.874 prontuários.
Segundo o governo estadual, a intenção é criar uma fonte de pesquisas sobre a história do país. O acervo pode ser pesquisado no site do Arquivo Público.
Parte dos documentos já é usada pela Comissão da Verdade paulista para apurar o envolvimento de pessoas e entidades em torturas e mortes cometidas dentro do órgão.
Sócrates e Gasparini também foram fichados.Gasparini: ‘porta-voz dos usineiros’
Considerado pela Deops como o porta-voz dos usineiros da região de Ribeirão Preto, o ex-prefeito e hoje deputado estadual Welson Gasparini (PSDB) também era monitorado pelo regime militar.
Em seu prontuário divulgado pelo Estado, consta que Gasparini foi eleito presidente do Diretório Municipal do PDC (Partido Democrata Cristão), em dezembro de 1987.
O documento faz referência ainda a reportagens publicadas na época que apontam a ligação de Gasparini com os usineiros.
Sobre o caso, ele nega que tenha sido um porta-voz. “Eu tive sim uma ligação com o pessoal do agronegócio. Mas a minha missão era ajudar a harmonizar o diálogo, a relação, entre os trabalhadores e os patrões”, disse.
Ele recorda que, quando foi eleito pela primeira vez prefeito de Ribeirão em 1963, foi perseguido politicamente por opositores.
Gasparini era perseguido pela força política da época por ser considerado de esquerda. Chegou a pertencer também à Frente Agrária.
Segundo ele, o partido que pertencia, o PDC, defendia a justiça social.
Mais personalidades
Além de Gasparini, também aparecem nos arquivos da Deops outros ribeirão-pretanos também foram fichados: os ex-prefeitos Antônio Duarte Nogueira e João Gilberto Sampaio, Divo Marino e Aurea Moretti.
A religiosa de Ribeirão, a madre Maurina, também foi perseguida pela ditadura militar.
Ela foi presa em outubro de 1969, acusada de haver participado da FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional).
Jornalista Claret foi detido por causa de coluna GalhofadasSócrates e Claret fichados
De acordo com os prontuários abertos para pesquisa esta semana pelo Estado, o ex-jogador Sócrates também era uma das personalidades ribeirão-pretanas que ficaram na mira da Deops.
Ele passou a ser monitorado em 1988 devido aos rumores de ser candidato a prefeito pelo PT. “O nominado está tão integrado à vida local que tem seu nome cogitado pelo PT para se candidatar à Prefeitura”, consta no prontuário da Deops.
Sócrates foi secretário de Esportes no primeiro mandato de Antônio Palocci (1993-1996).
Colunista do A Cidade, o jornalista Antônio Claret Gouvea foi preso em 1964 durante três dias pela publicação da sua coluna Galhofadas, no extinto Diário de Notícias. “A coluna fazia críticas e defendia as mudanças na política. Fui preso na casa da minha sogra”, relembra.
Com novo nome, atualmente Galhofa, a coluna de Claret voltou a ser publicada no A Cidade em abril de 2011.
Fonte – Jornal da Cidade