A Academia Mourãoense de Letras promoveu esta semana um ciclo de palestras com o tema ‘Atuação do Regime Militar: registros de uma guerra surda em Campo Mourão’. O assunto foi abordado pelos membros da entidade e professores, José Eugênio Maciel e Nelci Veiga Mello. O evento que aconteceu no anfiteatro da Unespar/Fecilcam contou com a presença de um grande público, em sua maioria alunos de história.
O evento lotou o anfiteatro da Unespar/Fecilcam –Valter Velozo/Tribuna do InteriorDe acordo com o presidente da academia, Jair Elias dos Santos Junior, o objetivo do evento foi discutir com a comunidade uma pequena, mas grande página de Campo Mourão, em especial dos acontecimentos que envolveram o regime militar. “Essa é uma preocupação da academia, voltar-se para a comunidade e discutir aspectos importantes da nossa história e nossa cultura.” Essa foi a primeira vez que a academia realizou esse ciclo de palestras. “Vamos realizar outros ciclos com outros temas principalmente sobre literatura mourãoense. Foi uma grande satisfação discutir com eles que no futuro estarão escrevendo a historia de Campo Mourão, Paraná e do Brasil”, afirmou o historiador.
Antes da primeira palestra foi apresentado um filme, como nasce uma cidade que registrou a chegada dos pioneiros a Campo Mourão. A professora Nelci discorreu sobre a atuação do Regime Militar em Campo Mourão. Relatos que fazem parte do livro “Caminhadas Vermelhas”, uma obra que trata da história dos movimentos sociais de esquerda no Estado do Paraná e na região de Campo Mourão, no período de 1956 a 1975.
De acordo com a professora, o livro é o resgate de conflitos, sonhos e ilusões de uma comunidade inserida em ações com amplitude nacional e internacional. “O passado esta presente aqui no nosso dia a dia no cotidiano, o passado ele interfere, não morre nunca”, comenta Nelci.
José Eugenio Maciel fez um relato do período da ditadura militar com o golpe de 1964 e os atos institucionais, perseguições e cassação que aconteceram na região, inclusive o processo de cassação do suplente de vereador Moacyr Reis Ferraz, em maio de 1964. O processo foi aberto depois de 35 dias da instauração do regime militar, através de um documento assinado por diversos vereadores pedindo a cassação do suplente.
Entre as acusações, a cassação de Moacyr estava sendo solicitada por “professar ideologia comunista” e por ter proposto “um voto de louvor à revolução russa”. A cassação foi aprovada por unanimidade em quatro de junho de 1964, sem direito a defesa. Em cinco de junho de 1964, o presidente da Câmara Getúlio Ferrari, promulgou a Resolução cassando o mandato de Moacyr Reis Ferraz, como suplente de vereador. “Viemos aqui nesse evento da academia trazer à luz a importância da luta dessas pessoas pela democracia e contra o golpe militar de 64 dado pelos militares,” disse Maciel.
Para a comunista declarada e sempre atuante, Lenilda de Assis que acompanhou atentamente as duas palestras, “até parece que foi um filme que passou nesta noite, chorei por alguns momentos e acho muito importante esse debate mostrando para os estudantes que a ditadura causou um mal muito grande para a nossa sociedade e que aqui em Campo Mourão aconteceu perseguição política onde pessoas foram presas e torturadas, como a historia do Moacir Ferraz com quem eu convivi muito na clandestinidade. Os comunistas sempre estiveram presentes na historia de Campo Mourão, em todas as discutições importantes da cidade”, declarou a militante.
Fonte – ITribuna