O convite havia sido enviado a sua residência, em Brasília. Como não houve resposta, um assessor do gabinete do vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da comissão, entrou em contato por telefone com o coronel reformado ontem.
“Ele atendeu muito educadamente, mas disse que não iria aceitar nosso convite. Foi educado no trato e falou que a decisão dele era de não atender nosso convite porque tudo que ele tinha para falar ele já falou e está contido no livro que ele escreveu”, disse Natalini.
Ustra é autor dos livros “Rompendo o Silêncio” (1987) e “A Verdade Sufocada” (2006), em que conta sua versão sobre os anos do regime militar e os crimes cometidos pela esquerda.
O presidente da comissão, entretanto, não se contentou com a resposta e já entrou em contato com a Comissão Nacional da Verdade, que tem o poder de convocação, para que Ustra seja convocado para depor em uma sessão conjunta dos comitês.
“Nós queremos ouvi-lo. Eu insisto em ouvi-lo porque acho que [o Ustra] é uma figura importante no processo. Ele comandou um DOI-Codi na maior cidade do Brasil e a nossa comissão insiste que ele deveria prestar um depoimento”, disse Natalini.
O militar comandou, de setembro de 1970 a janeiro de 1974, o DOI-Codi de São Paulo, o maior órgão de repressão aos grupos de esquerda envolvidos na luta armada contra a ditadura. Ele é acusado de comandar sessões de tortura em presos políticos no local, o que ele nega.
Um levantamento do projeto Brasil Nunca Mais lista 502 casos de tortura no DOI-Codi que teriam sido chefiados por ele.
Ustra é réu em uma ação na Justiça Federal pelo suposto crime de sequestro qualificado contra o corretor de valores Edgar de Aquino Duarte, em junho de 1971.
Uma segunda denúncia do Ministério Público Federal contra Ustra –pelo desaparecimento do líder sindical Aluízio Palhano, em 1971– não foi aceita, e a Procuradoria vai recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Outros depoimentos
A Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo aguarda até a próxima segunda-feira confirmação sobre o convite feito ao economista Delfim Netto, que foi ministro nos governos de Costa e Silva, Médici e Figueiredo, para prestar depoimento.
O grupo também está em fase final no acerto para a vinda a São Paulo, para depoimento, do ex-fotógrafo da Polícia Civil Silvaldo Leung Vieira.
Ele é autor da fotografia do jornalista Vladimir Herzog morto numa cela do DOI-Codi, em São Paulo, em 1975, forjando uma cena de suicídio, e já de demonstrou disposto a colaborar com a comissão. A data prevista para seu depoimento é 28 de maio.
Em reportagem publicada no ano passado pela Folha de S.Paulo, Silvaldo afirmou ter sido “usado” pela ditadura militar (1964-85) para forjar a cena do “suicídio” de Herzog, que, segundo testemunhas, morreu após ser torturado.
Fonte – Folha Press