Ustra vai depor na Comissão da Verdade, diz advogado

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, 80, deverá prestar depoimento à Comissão Nacional da Verdade na próxima sexta-feira, em Brasília, segundo afirmou seu advogado Paulo Alves Esteves.

O militar foi convocado pelo colegiado no último dia 26. O grupo quer ouvir o coronel sobre as acusações de que ele teria participado de crimes e violações aos direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985). 

Ustra comandou, de setembro de 1970 a janeiro de 1974, o DOI-Codi de São Paulo, o maior órgão de repressão aos grupos de esquerda envolvidos na luta armada contra a ditadura. Ele é acusado de comandar sessões de tortura em presos políticos no local, o que ele nega.

Inicialmente, o advogado de Ustra havia afirmado que o militar tentaria ser dispensado da obrigação de comparecer à comissão, argumentando que tudo que ele poderia falar sobre o assunto já está dito em seus livros.

No início desta tarde, o advogado afirmou à reportagem que Ustra temia ser vítima de desmoralização, e por isso tentou evitar o depoimento, mas que depois mudou de ideia e que, “se ele sentir que tem segurança de ir sem ser ofendido, ele vai [depor]”.

Caso não compareça, Ustra poderá responder pelo crime de desobediência. Mesmo se comparecer, ele terá o direito de não responder às questões da Comissão da Verdade. “Tudo que ele tinha para falar ele já escreveu”, disse o advogado.

Ustra é autor dos livros “Rompendo o Silêncio” (1987) e “A Verdade Sufocada” (2006), em que conta sua versão sobre os anos do regime militar e os crimes cometidos pela esquerda.

Em abril, Ustra recusou convite da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo para prestar depoimento, com o mesmo argumento de que tudo que teria a dizer sobre o período já está em seus livros.

Denúncias

Ustra é réu em uma ação na Justiça Federal pelo suposto crime de sequestro qualificado contra o corretor de valores Edgar de Aquino Duarte, em junho de 1971.

Uma segunda denúncia do Ministério Público Federal contra Ustra -pelo desaparecimento do líder sindical Aluízio Palhano, em 1971- não foi aceita, e a Procuradoria vai recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

No dia 29 de abril, o Ministério Público Federal denunciou Ustra e o delegado aposentado Alcides Singillo pelo crime de ocultação do cadáver do estudante de medicina Hirohaki Torigoe, 27, morto em janeiro de 1972, em São Paulo. A Procuradoria aguarda confirmação da Justiça Federal sobre a aceitação da denúncia.

Segundo seu advogado, Ustra nega qualquer participação em crimes como tortura, desaparecimento forçado, sequestro ou violência durante a ditadura militar.

 

Fonte – Folhapress

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