Impresa argentina destaca que Videla morreu sem dar respostas

Jorge Videla, o símbolo da ditadura argentina (1976/83), morreu na sexta-feira na prisão, sem demonstrar arrependimento nem dar respostas sobre o destino dos desaparecidos, destaca a imprensa de Buenos Aires. “Morreu Videla, o símbolo da ditadura”, afirmam em suas primeiras páginas os influentes jornais Clarín e La Nación, enquanto o Tiempo Argentino ressalta que “morreu na prisão o genocida Videla”.

“Golpe no inferno”, ironizou Página/12, um jornal criado depois do retorno da democracia em dezembro de 1983 e que fez das denúncias dos crimes da ditadura um dos eixos de sua política editorial. Os jornais dedicam muitas páginas das edições de sábado ao ex-ditador, que faleceu aos 87 anos de causas naturais em uma prisão ao sudoeste de Buenos Aires.

Condenado duas vezes à prisão perpétua por assassinatos e torturas, além de uma pena de 50 anos de prisão pelo roubo de bebês, Videla morreu praticamente sem apoio, como demonstram os breves 18 avisos fúnebres publicados em sua memória no La Nación, nenhum no Clarín.

O ex-ditador é “o rosto de um regime que sequestrou, torturou e assassinou. No governo de Videla (1976/1981), o desaparecimento de pessoas se instaurou como método”, recorda o Clarín.

O jornal completa que entre suas “últimas provocações”, o militar destituído calculou em “7 ou 8 mil pessoas o número de desaparecidos contra a cifra emblemática de 30.000 que denunciam os organismos de direitos humanos”.

Videla “foi um hipócrita, que ajoelhado nas igrejas se atribuiu uma missão sangrenta. Deu um rosto adusto à pior ditadura que viveu a Argentina. Ninguém poderá recordar apenas um ato público que o redima das manchas morais indeléveis”, afirmou a escritora Beatriz Sarlo no La Nación.

Sarlo adverte que “para outro capítulo da história resta a análise de por quê foi possível e como se conduziram milhões de argentinos nos primeiros anos da ditadura, onde esteve a imprensa, onde os políticos, onde os poucos resistentes; como foram mudando condutas e revendo posições”. “Pôs o Estado de joelhos a serviço do poder econômico”, recordou o Tiempo Argentino.

“Em março de 1976, (o ex-ministro da Economia José) Martínez de Hoz apresentou um plano liberal ao ditador, que poucos dias depois concretizaria o último e mais violento golpe da história argentina”.

“O que nunca aprendeu a se arrepender”, destaca o Página/12, que recorda declarações recentes de Videla publicadas na revista espanhola Cambio 16, nas quais “repetiu as ideias de sempre sobre ‘delinquentes subversivos’ e ordem”.

 

Fonte – Agence France-Presse

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