Casos do padre Henrique e de Anatália Melo são os mais emblemáticos. Versões da época da ditadura foram apuradas e assassinatos, confirmados.
Comissão da Verdade de Pernambuco atua em Pernambuco há um ano (Foto: Katherine Coutinho / G1)Criada através da lei estadual nº 14.688, a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara completa um ano neste sábado (1º). A atuação dos nove membros para resgatar e investigar casos de violação aos direitos humanos em Pernambuco durante o período da ditadura militar tem obtido destaque no País. Até abril deste ano, a comissão estadual realizou 105 sessões ordinárias.
“Até agora, chegamos a examinar 2.415 prontuários, e já digitalizamos aproximadamente 20 mil páginas de depoimentos, prontuários e documentos sobre as violações de direitos humanos em Pernambuco. Somos considerada a [comissão] que mais tem mais avançado, temos um pessoal muito experiente,”, afirmou o coordenador do grupo, Fernando Coelho. Além dele, integram o grupo Áureo Bradley, Gilberto Marques, Henrique Mariano, Humberto Vieira de Melo, Manoel Moraes, Nadja Brayner, Roberto Franca e Socorro Ferraz.
Fernando Coelho é o coordenador da Comissão da Verdade de PE (Foto: Katherine Coutinho / G1)Para o coordenador da comissão pernambucana, as investigações têm conseguido desvendar casos emblemáticos, como o da morte do Padre Henrique, em 1969, e o da jovem Anatália de Souza Alves de Melo, morta em 1973. “A gente conseguiu apresentar conclusões bastante expressivas. No caso do padre Henrique, identificamos as circunstâncias da morte e o assassinato dele, pondo abaixo a versão oficial divulgada na época. Em relação a Anatália, que era dado que ela tinha se suicidado, nós comprovamos que ela foi assassinada e estuprada também”, falou Fernando Coelho.
Fernando avalia que as comissões da verdade surgiram para que a sociedade saiba o que foi escondido durante o regime militar no Brasil. “A comissão não tem poder judicante. No sistema brasileiro, a função de julgar é do Poder Judiciário, e a comissão tem o papel de levantar os fatos, vencendo as dificuldades décadas depois [do fim da ditadura], quando a maioria das pessoas que participaram já morreu e muitos documentos foram alterados, subtraídos. Fazemos um trabalho de detetive.”
Quando encerrar as atividades, a comissão vai apresentar um relatório resumindo todo o trabalho feito pelos integrantes. “Dentro de dois anos vamos encerrar as atividades, mas queremos deixar uma obra permanente: estamos em contato com a UFPE para que haja um centro de estudo e investigação de direitos humanos, um observatório dentro da universidade. Também está em preparação um congresso internacional de direitos humanos no Recife, no final do ano”, afirmou.
Fonte – G1