Comissão da Verdade Dom Helder Camara realiza oitiva sobre mortos e desaparecidos do PCB

A Comissão Estadual da Memória e Verdade Doom Helder Câmara, através dos relatores do CEMVDHC: Socorro Ferraz, Manoel Moraes e Gilberto Marques, irá realizar uma sessão pública com objetivo de apurar casos de mortos e desaparecidos do Partido Comunista Brasileiro PCB. A sessão será realizada na manhã desta terça-feira (4) no auditório do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), localizada no Campus da instituição, na Cidade Universitária. Serão ouvidos Cristina Capistrano, filha do ex-dirigente do PCB, David Capistrano (desaparecido político desde 1974), e Aníbal de Oliveira Valença, ex-preso político e atual dirigente da legenda em Pernambuco. Os depoimentos devem auxiliar as investigações de outros casos de mortos e desaparecidos políticos, além de David Capistrano. O evento será aberto ao público e será presidido pelo coordenador da Comissão Fernando Coelho.

A versão oficial David Capistrano foi sequestrado em 16 de março de 1974 e está desaparecido desde então. Segundo informações de Claudio Guerra, no livro Memórias Reveladas, Capistrano teria sido visto na casa da morte em Petrópolis, RJ. Em 1992, Marival Chaves, ex-agente do DOI-CODI, afirmou à Revista Veja que David foi preso, torturado, morto e esquartejado no Rio de Janeiro, sendo os restos mortais jogados num rio, fato que também é objeto de investigação da Comissão Dom Helder. Ele foi deputado estadual pelo Partido Comunista Brasileiro, eleito em maio de 1946, o segundo deputado mais votado de Pernambuco, tendo o mandato cassado em 1948, pelo decreto que colocou o PCB na ilegalidade.

Depoente Cristina Capistrano, pedagoga, aposentada, é filha do desaparecido político David Capistrano. Em abril de 1964, a mãe, Maria Augusta de Oliveira, e o irmão, David Capistrano Filho, menor de 14 anos, foram presos, e pressionados a apontar o paradeiro do esposo/pai. Durante todo o período da ditadura militar, a família Capistrano sofreu constantes perseguições. David Capistrano Filho, que se formou em medicina no Rio de Janeiro, foi detido nove vezes por acusações de participação no movimento estudantil e na luta pela redemocratização do país. Cristina foi presa em 1972, quando passou 45 dias sendo torturada no DOI-CODI do Rio de Janeiro e, depois, foi transferida para o presídio da Ilha das Flores, onde permaneceu detida por oito meses.

Depoente Aníbal de Oliveira Valença, médico, aposentado pelo SUS, é dirigente do Comitê Regional do PCB em Pernambuco e membro da Associação Pernambucana de Anistiados Políticos (APAP). Conheceu David Capistrano ainda na infância. Participou da União da Juventude Comunista (UJC) entre 60 e 61, a partir de 62 ingressou formalmente no PCB. Foi preso em 21 de abril de 64, tendo ficado na Casa de Detenção até o final de julho de 1964. Com apenas 19 anos, foi vitima do Ato Institucional nº1, no último dia de sua validade (09/10/1964), sendo demitido compulsoriamente do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), onde exercia a função de Office-Boy.

 

Fonte – Diário de Pernambuco

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