Segundo Damous, todos os militares perseguidos durante a ditadura e tratados como desertores e traidores vão ter na Comissão uma caixa de ressonância dentro do programa ‘Testemunhos da Verdade’. “É um paradoxo: falamos em ditadura militar, mas a categoria profissional mais atingida pelo golpe foi justamente a militar. Muitos foram perseguidos e tratados como desertores e traidores. Vamos contar a história desses brasileiros”, garantiu.
Os depoimentos serão públicos e poderão ser acompanhados no auditório da Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de Janeiro (Caarj), localizado ao lado do prédio da Seccional da OAB-RJ. O primeiro a ser ouvido, às 9h30, será o coronel Bolívar Meirelles e em seguida o coronel Ivan Proença. A partir das 14h, será a vez do comandante Ferro Costa, Antônio Duarte e Oswaldo Araújo.
Veja o currículo resumido dos militares que serão ouvidos na próxima terça-feira:
Coronel Bolívar Meirelles
Coronel do Exército, e oficial oriundo de tradicional família de esquerda; por ocasião do golpe de 1964 servia em Goiânia na patente Tenente. Preso, viria à ser um dos primeiro militares cassados, e posteriormente atuou decisivamente na luta pela anistia em entidades como a Associação de Militares Cassados (Amic) e Associação Democrática e Nacionalista de Militares (Adnam), e na luta democrática, foi candidato à Deputado Federal. Desenvolveu estudos sobre os militares, tendo uma dissertação referenciada em trabalhos acadêmicos com o título Conflitos Políticos e Ideológicos das Forças Armadas entre 1945 ? 1964.
Coronel Ivan Proença
Coronel do Exército, e na patente de capitão teve a iniciativa de abortar aquilo que seria um massacre de estudantes por ocasião do golpe de 1964. Preso por mais de 50 dias, não aceitou a oferta de perdão em troca de seu silêncio, tendo seus direitos militares cassados, e perseguido por mais de 20 anos na vida civil. Atuou na luta pela anistia e pela redemocratização na Adnam, e mais recentemente publicou vários livros entre os quais, ?O Golpe Militar e Civil de 64?.
Comandante Ferro Costa
O oficial nacionalista e legalista, participou do Gabinete do Almirante Paulo Mário, o último Ministro da Marinha de João Goulart. É um observador direto daqueles dias, com bom relacionamento com os marinheiros (pouco usual entre os oficiais), tendo sido preso, e cassado posteriormente. Teve ainda atuação de destaque na luta pela anistia e da democracia, atuando diretamente como delegado da Adnam em Brasília nos vários encaminhamentos das propostas de anistia dos militares.
Antônio Duarte
Marinheiro, participou das lutas para a formação da associação em 1964, bem como da resistência armada à ditadura. Posteriormente exilou-se na Suécia por vários anos, e com anistia, retornou ao Brasil atuando politicamente no processo de redemocratização. Atualmente é colaborador do Semanário Inverta e publicou 02 livros, A luta dos Marinheiros (ed. Inverta), e em 2012, o livro Almirante Aragão (Ed. consciência).
Oswaldo Araújo
Marinheiro das mobilizações do pré 1964, atuou na formação da entidade e na resistência ao golpe, sendo preso no Cruzador Tamandaré. Preso, cassado, expulso da armada, conjuntamente com centenas de marujos e fuzileiros. Posteriormente participou na luta pela anistia e pela redemocratização, atuando na UMNA – União de Mobilização nacional pela anistia.
Fonte – Jornal do Brasil