José Dias defendeu presença de familiares de vítimas em audiências. Comissão de vítimas pede transparência e reestruturação de membros.
Depois de ouvir críticas referentes à falta de transparência e à ausência de depoimentos de vítimas da ditadura militar em audiências da Comissão Nacional da Verdade, o ex-ministro e membro do órgão José Carlos Dias reconheceu que há falhas nos procedimentos adotados recentemente pela Comissão. A afirmação foi feita após uma reunião com representantes da Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. O encontro começou por volta das 11h desta segunda-feira (24), no escritório da Presidência em São Paulo, e terminou pouco depois das 13h30.“Eles apresentaram críticas à Comissão e nós assumimos com humildade várias falhas que eventualmente e definitivamente nós estamos cometendo. Tratamos de realinhar o nosso trabalho para a aproximação maior entre o grupo de familiares e o trabalho que a gente tem feito”, disse Dias. A Comissão Nacional da Verdade conta atualmente com sete membros e apura desde o ano passado casos de violação de direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar.
Nesta segunda, os familiares de vítimas formalizaram um pedido de encontro com a presidente Dilma Rousseff para tratar da falta de uma metodologia adequada no andamento dos trabalhos. Também estavam entre os pedidos maior transparência e a participação efetiva de parentes de vítimas na atuação da Comissão Nacional da Verdade.
“Há muitas divergências internas e nós pedimos com urgência uma reunião com a presidente Dilma para tratar dessa questão. É inadmissível que pessoas que integram a comissão chamem o companheiro de “besta autoritária, é desrespeitoso”, afirmou Maria Amélia Teles, da Comissão dos Familiares, referindo-se a comentários feitos por uma das integrantes da Comissão Nacional da Verdade, Maria Rita Kehl, em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, após a saída do ex-procurador Cláudio Fonteles, que deixou o órgão na semana passada. Na entrevista, ela disse que Cláudio não é uma “besta autoritária” para ter saído da Comissão Nacional da Verdade devido à discussão em torno da nomeação de um assessor.
Maria Amélia citou ainda a necessidade transparência no trabalho da Comissão. “A gente já vinha preocupado também com o fato de as audiências serem sigilosas. Entendemos que o princípio da transparência exige publicidade de todas as audiências porque a construção da verdade é coletiva”, disse.
“Assumi publicamente uma crítica que foi o depoimento que o Ustra [coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra] prestou em uma audiência pública. Toda a imprensa estava lá, a internet transmitiu. No entanto, deveriam ter sido ouvidas mais vítimas. Só uma foi ouvida. Para que pudéssemos em uma audiência pública revelar a palavra do torturador, do bandido, e também daquelas pessoas que foram vítimas dele”, afirmou ainda José Carlos Dias.
Pedido de reestruturação
Durante o encontro desta segunda, familiares pediram ainda a reestruturação da comissão e o retorno de Fonteles. “Queremos a volta do Cláudio. Protestamos contra essa coisa de baixo nível entre os membros e a discriminação feita aos familiares e pessoas que apuraram, que conhecem a estrutura da repressão e sequer foram ouvidas. É preciso fazer uma mudança de procedimento”, disse Ivan Seixas, também membro da Comissão de Familiares.
Fonteles deixou a Comissão Nacional da Verdade no dia 17 de junho e disse que renunciou porque havia completado “um ciclo”. Para ele, a decisão é “irrevogável”.
“Infelizmente ele apresentou a renúncia com caráter irrevogável. Nós insistimos para que ele voltasse, mas ele não quis”, disse o ex-ministro José Carlos Dias. Questionado sobre rumores de que também estaria insatisfeito com o andamento dos trabalhos da Comissão, ele disse que não pretende deixar a função, mas disse estar “muito cansado. Fisicamente e psicologicamente.”
A coordenadora da Comissão, Rosa Cardoso, disse que irá encaminhar o pedido de reunião à presidente Dilma Rousseff, mas preferiu não comentar as reivindicações. De acordo com os familiares, porém, Rosa teria concordado com a necessidade de uma “reestruturação metodológica” na Comissão da Verdade.
Apesar de apontarem um saldo positivo, os familiares reafirmam a necessidade de mais reuniões entre as comissões. Em mais de um ano de trabalho, esse foi o segundo encontro entre familiares e membros da Comissão Nacional da Verdade. não pensa em deixar a comissão, citou um desgaste interno e a necessidade de superar
Grupos de Trabalho
Também nesta segunda são realizados ao menos dois grupos de trabalho da Comissão Nacional da Verdade – Papel das Igrejas Durante a Ditadura e Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical.
O membro do CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, informou que o grupo já iniciou o levantamento de informações sobre a participação de empresas na repressão. “Temos informações de que empresas divulgavam fichas de ativistas ao serviço secreto do governo”, afirmou.
Mancha disse que a próxima reunião do grupo de trabalho deve ocorrer em 3 de julho. No dia 22 de julho, um ato deve marcar o lançamento oficial do grupo de trabalho, no dia seguinte à data em que a primeira greve geral após a ditadura completa 30 anos – em 21 de julho de 1983. Do evento devem participar representantes de todas as centrais sindicais. Não há informações sobre o local de realização do ato.
Fonte – G1