O escritor e jornalista Emiliano José é autor de um projeto elogiável, que contribui para a memória histórica do país, ao resgatar os horrores da ditadura militar, recuperando a trajetória de presos políticos.
Emiliano José lança o quarto livro da saga sobre a Galeria F, da Lemos de Brito
Trata-se da série Galeria F – Lembrança do Mar Cinzento. O quarto volume desta saga,Galeria F – Lembranças do Mar Cinzento (IV) – Golpe. Tortura. Verdade., que tem selo da Caros Amigos Editora, será lançado nesta quinta-feira, 11, às 18 horas, na Livraria Cultura, no Shopping Salvador.
É o 10º livro do escritor, que explica que a Galeria F é um espaço da Penitenciária Lemos de Brito composta de 20 celas. Na época do regime militar, abrigou os presos políticos. Emiliano, um dos detidos, ficou preso de 1971 a 1974.
Início – “Comecei este projeto em 1999, escrevendo no jornal A TARDE, numa estrutura quase folhetinesca, em capítulos, deixando o leitor sempre atento para os próximos acontecimentos. Depois vieram os livros”, recorda o jornalista.
Nesta nova obra, entre outros fatos, Emiliano resgata o trágico assassinato de Gildo Macedo Lacerda, cujo corpo até hoje não foi encontrado, como tantos outros. Relata como ocorreu a emboscada que matou o líder revolucionário Carlos Marighella e narra o calvário de Mário Alves, dirigente do PCBR, morto empalado durante tortura.
Ele transita pela guerrilha do Araguaia, pelo assassinato do capitão Lamarca e as homenagens prestadas a ele, mais de 40 anos depois, na Bahia.
Depoimentos – A obra Galeria F – Lembrança do Mar Cinzento. Golpe. Tortura. Verdade. tem prefácio do pesquisador de comunicação Venício A. de Lima, da Universidade Nacional de Brasília (UNB). Já o posfácio é assinado por Paulo Vannuchi, integrante da Comissão de Direitos Humanos da OEA.
O livro inclui os depoimentos do ex-ministro Waldir Pires nos primeiros dias do golpe militar, além dos de Carlos Marighella Filho e Marco Antônio da Rocha Medeiros, presos na Operação Radar – episódio que matou duas dezenas de dirigentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em todo o país, sob comando direto do oficial Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Tortura – Brilhante foi acusado de ter matado na tortura pelo menos 50 militantes políticos. “Tanto Carlos Alberto Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury (delegado do DOPS, de São Paulo, também torturador) estiveram aqui na Bahia em 1975”, conta.
“Escrevo sobre este período sombrio e violento para que nunca mais haja uma ditadura”, afirma o escritor, que recorda que, apesar das agruras da Galeria F, “nós conseguimos estabelecer ali dentro uma convivência muito fraterna, com amplas discussões políticas”, acrescenta o autor
O livro contém 42 artigos, entrevistas, resenhas, reportagens publicados em revistas, jornais e sites na internet. O núcleo central, entretanto, é a repressão contra muitos que resistiram à ditadura na Bahia. Emiliano fala até da luta dos negros contra a escravidão, com dois artigos: um sobre racismo e outro sobre a Revolta dos Malês.