Neto de dirigente do PCdoB fala sobre “mentiras” contadas pela versão dos militares
A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo ouviu nesta quinta-feira (8) o depoimento do jornalista Pedro Estevam da Rocha Pomar, neto do então dirigente do PCdoB Pedro Pomar, um dos mortos em São Paulo no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em dezembro 1976.
Trio foi morto na Chacina da Lapa, em 1976. Reprodução/Comissão da Verdade— Os documentos oficiais construíram uma versão mentirosa. E essa versão foi estampada nos jornais da época. E acabou, de certa maneira, persistindo. Você lê algumas publicações e tem a impressão que, após a morte de Vladimir Herzog e de Manuel Fiel Filho [nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) em outubro de 1975 e janeiro de 1976, respectivamente] não houve mais mortes, não houve mais repressão violenta, não houve mais tortura.
Em depoimento na Assembleia Legislativa de São Paulo, Pedro Estevam completou:
— Achamos importante fazer essa contraposição para repôr a verdade histórica.
No episódio, três militantes contrários ao regime foram mortos. Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, dirigentes do PCdoB, executados por agentes da ditadura no dia 16 de dezembro dentro de uma casa na Rua Pio XI, na Lapa, usada pelo partido como local de reunião. No dia anterior, o economista João Batista Franco Drummont foi preso quando saía da casa e levado para as dependências do DOI-Codi, onde foi morto.
A casa estava sendo vigiada pelas forças de segurança havia quatro dias. Foram presos, e posteriormente torturados, Maria Trindade, que ainda estava na casa quando da invasão dos militares, Haroldo Borges Rodrigues Lima, Aldo Arantes e Wladmir Pomar, que já tinham deixado o local. Elza de Lima Monnerat e Joaquim Celso de Lima foram presos quando estavam em um carro em frente ao local.
Na versão oficial, apresentada pelo Exército à época, a casa de número 767 na Rua Pio XI, na Lapa, era usada para “reuniões clandestinas com comparecimento de elementos ligados à subversão”.
— Foi dito que houve tiroteio e resistência armada. E que João Batista morreu atropelado. Que não houve tortura posterior. Mas os presos foram torturados em São Paulo e no Rio de Janeiro, torturados durante dez dias no DOI-Codi do 1º Exército.
O presidente da Comissão Estadual Verdade, deputado estadual Adriano Diogo (PT), o depoimento serviu para esclarecer questões ainda nebulosas.
— Esta audiência foi importantíssima. É um episódio encoberto de muitas dúvidas. As pessoas não estavam nem armadas, estavam em uma reunião de avaliação e foram assassinadas.
Fonte – R7