Nomes foram entregues à CNV em reunião com mais de 30 pesquisadores de todo o Brasil para discutir violações de direitos dos camponeses na época da ditadura.
A Comissão Nacional da Verdade esteve reunida no início desta semana, em Brasília, com cerca de 30 pesquisadores de todo o Brasil que investigam graves violações de Direitos Humanos cometidas contra camponeses no período da ditadura.Representantes de 17 universidades participaram da reunião organizada pela Comissão Camponesa da Verdade (CCV), criada para investigar especificamente os casos de camponeses assassinados, torturados e perseguidos pelo regime militar e para auxiliar o GT graves violações de Direitos Humanos no campo ou contra indígenas, da CNV, coordenado pela comissionária Maria Rita Kehl.
Durante a reunião, foi apresentada à Comissão Nacional da Verdade uma lista com cerca de 30 casos de camponeses que foram perseguidos, mortos ou torturados pelo aparato repressor do Estado de exceção. Esses casos, que relatam as graves violações de Direitos Humanos em 11 estados brasileiros, já estão sendo investigados pela rede e pela Comissão Camponesa da Verdade.
Além da perseguição política às pessoas do campo, a Comissão Camponesa destacou a necessidade de ser incluído no escopo do GT Camponeses e indígenas a situação enfrentada por camponeses que ficaram na região do Araguaia após o desmantelamento da Guerrilha, no início dos anos 70. À época, o Estado brasileiro, a pretexto de combater a guerrilha – que neste momento já havia sido desmobilizada, expulsou posseiros de suas terras, torturou e assassinou os que tentaram resistir e perseguiu e matou religiosos e sindicalistas que defendiam os agricultores da região.
A psicanalista Maria Rita Kehl, comissionada da CNV e coordenadora do GT, relatou à rede de pesquisadores todo o material arrecadado pelo GT desde o início dos trabalhos da CNV.
GT Camponeses e Indígenas – Pelo mesmo GT, Maria Rita esteve reunida na última sexta-feira, em Vitória, com indígenas das etnias Guarani e Tupiniquim. Três índios prestaram depoimento à comissionada e relataram a prática de “voos da morte”, quando agentes do regime da repressão atiravam os presos do alto de pequenos aviões ao rio ou ao mar. Este tipo de prática era conhecido em missões realizadas pela Operação Condor, mas é a primeira vez que se tem notícia do seu uso em violações de direitos humanos contra indígenas.
A índia Marilsa da Silva, da etnia Guarani, relatou casos de pessoas de sua tribo que foram jogadas ao mar. “As lideranças que organizam as aldeias foram os primeiros a serem atacados”, relata. Ela explica que a perseguição aos índios estava diretamente ligada à disputa pela posse de terras. Segundo Marilsa, as empresas queriam adentrar territórios indígenas e quilombolas para produzir celulose embranquecida. “Onde o povo indígena tivesse um projeto de monocultura, o (ex-presidente) Castelo Branco dizia que tinha que levar os povos para o avião e jogar no mar, para que acabasse com os povos indígenas. Jogar num lugar onde ninguém poderia descobrir”, relembra.
A relação entre a perseguição aos índios e a empresa de extração de celulose também foi relatada e estudada pela antropóloga Celeste Ciccarone, da Universidade Federal do Espírito Santo. Celeste entregou à CNV um dossiê, fruto do mestrado da antropóloga, com informações detalhadas sobre dois centros de detenção de indígenas, o Reformatório Krenak, em Resplendor (MG), e a Fazenda Guarani, em Carmésia (MG).
Fonte – Comissão Nacional da Verdade – Assessoria de Comunicação