A Comissão Nacional da Verdade vai acompanhar o mistério envolvendo o desaparecimento em Brasília de ossadas encontradas na região onde ocorreu a guerrilha do Araguaia.
Segundo Rosa Cardoso, uma das integrantes, a comissão não tinha esse entre os seus objetivos, mas diante da “gravidade” do caso, vai a acompanhar o que está acontecendo.“Vamos começar a acompanhar o caso, mas sem excluir ou querer substituir os grupos que estão participando desse trabalho”, disse ela, após evento da comissão em São Paulo.
Conforme revelou a Folha neste domingo (1º), cinco ossadas e um crânio localizados em 2001, em Xambioá (TO), desapareceram em Brasília. A suspeita é de que os ossos, que apresentavam sinais de violência na época em que foram encontrados, pertencem a guerrilheiros executados pelo Exército durante a guerrilha do Araguaia (1972-74), o maior conflito na ditadura entre a esquerda armada e Forças Armadas.
No lugar dessas ossadas, a Polícia Federal, responsável por analisar o material, identificou restos mortais de quatro crianças, que não tem qualquer relação com a guerrilha que ocorreu na região conhecida como Bico do Papagaio– área entre o Pará, Tocantins e Maranhão.
As ossadas recolhidas na região desde a década de 90 têm circulado por vários órgãos em Brasília. Não raro, são transportadas em caixas de papelão, próprias para biscoitos, por exemplo.
Alan Marques – 22.out.2001/Folhapress
Luiz Eduardo Greenhalgh desembarca em Brasília com ossadas que podem ser de guerrilheiros do Araguaia, em 2001Não há informação sobre o local onde essas ossadas se perderam, já que circularam por diversos órgãos federais antes de serem armazenadas em uma sala-cofre na UnB (Universidade de Brasília).
As ossadas que desapareceram foram extraídas do Araguaia em 2001, em uma expedição realizada pelo então deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, que representava a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
O desaparecimento consta de um relatório assinado por quatro peritos do INC (Instituto Nacional de Criminalística), de novembro de 2012, que fez um inventário das 25 ossadas retiradas da região e que estão em Brasília, à espera de exames de DNA.
O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Wadih Damous, classificou de “inaceitável” o desaparecimento das ossadas.
Além da UnB, são responsáveis por manter –e tentar identificar as ossadas– a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
No próximo dia 10 a Justiça Federal de Brasília vai ouvir os envolvidos para tentar decifrar o mistério.
Fonte – Folha de S.Paulo