‘Comissão da Verdade’ vai a Ipatinga pela 1ª vez para debater massacre

‘Massacre de Ipatinga’ foi o assassinato de trabalhadores da Usiminas. Comissão foi constituída para tratar as violações de direitos.

Membros da comissão Comissão Nacional da Verdade virão a Ipatinga no dia 7 de outubro. (Foto: Reprodução /Globo News)

Será realizada no dia 7 de outubro de 2013, em um local ainda não definido, uma audiência pública presidida por membros da Comissão Nacional da Verdade (CMV) para tratar do assassinato de trabalhadores da Usiminas, em um episódio que ficou conhecido como o “Massacre de Ipatinga”.

O evento será realizado no dia exato em que a tragédia completará 50 anos, e a intenção é recolher depoimentos que tragam novas informações sobre o caso. O episódio de Ipatinga aconteceu próximo ao período em que o Brasil viveu os conhecidos anos de chumbos, durante a ditadura militar.

Na época, o ato trouxe a Ipatinga, então distrito de Coronel Fabriciano, representantes do Governo Estadual e da Polícia Militar. Uma negociação pôs fim ao manifesto, e alguns militares que participaram do massacre foram expulsos da corporação. Contudo, nenhum inquérito foi instaurado e o assunto até hoje é tabu entre os moradores da cidade.

Breno Martins Zeferino, professor de história, relata que a chegada da comissão da verdade é uma forma de fazer justiça à memória dos diversos trabalhadores mortos, e também para fazer um outro capítulo para essa triste história.

“Essas pessoas foram mortas de uma maneira muito brutal, e desvendar o massacre de Ipatinga é mexer em um assunto que aconteceu no interior, mas teve repercursão nacional, porque o massacre antecedeu à ditadura militar, ocorrida em 1964. Espero que a comissão colha bem os depoimentos e em seguida faça justiça”, diz.

Está será a primeira vez que a Comissão se reunirá na região Leste, e a segunda em Minas Gerais. O local para o debate em Ipatinga ainda não foi definido, mas pelo menos um nome já foi confirmado pela assessoria de imprensa da CMV, o da advogada e mestre em direito penal Rosa Maria Cardoso da Cunha, que chegou a coordenar a Comissão da Verdade entre maio e agosto de 2013.

História

Segundo os registros históricos, o Massacre de Ipatinga, ocorrido em 1963, foi originado por um atrito entre militares e funcionários da Usiminas, que protestavam por melhores condições de trabalho e contra a truculência de vigilantes da empresa e da Polícia Militar na cidade.

A lista oficial de mortos traz os nomes de sete vítimas, entre elas Eliane Martins, morta aos três meses no colo de sua mãe, e que hoje dá nome ao Hospital Municipal da cidade. No entanto, o número ainda é contestado, e algumas versões chegam a afirmar que foram mais de 80 mortes.

O historiador Breno Zeferino confirma a importância do CMV vir para Ipatinga e recontar a história, que há mais de 50 anos está viva na memória da população ipatinguense. Segundo o professor na região existem outros profissionais que já se interessaram pelo tema , e que até mesmo um livro foi escrito pela autora Marilene Tuler, “Massacre de Ipatinga – Mitos e Verdades”, resgatando o assunto.

“Debater o massacre de Ipatinga é reconstruir um momento histórico ocorrido na nossa cidade. É muito importante refazer essa história e desvendar aquilo que não ficou tão claro no passado, para que o mesmo erro não seja cometido no futuro. Historiadores da região debatem sempre essa questão. A historiadora Marilene Tuler conta muito bem como foi esse episódio”, conta.

A chacina ocorreu em uma entrada da companhia siderúrgica, onde hoje está o bairro Horto. Segundo informações da Comissão da Verdade, operários cansados das más condições de trabalho, e após sofrerem diversas humilhações e abusos por parte de militares e também de vigilantes da Usiminas, eles se reuniram em uma portaria da empresa, no bairro Horto, para manifestar. Para tentar conter o protesto, policiais teriam efetuado disparos usando metralhadoras, matando diversos trabalhadores.

Audiência

O requerimento para a realização da audiência pública sobre o Massacre de Ipatinga é de autoria do presidente da associação dos Trabalhadores Anistiados de Minas Gerais, Edinho Ferramenta. Segundo ele, a intenção é trazer para a discussão vítimas, e também representantes da Usiminas e do Sindicato dos Metalúrgicos, existentes à época dos fatos.

“Destacamos a vinda da Comissão da Verdade por completar 50 anos desse episódio, que ainda é um mito em Ipatinga. Essa história não pode morrer”, afirma Edinho.

De acordo com o presidente da associação, durante o mês de outubro será inaugurado em Ipatinga um monumento em homenagem aos mortos na chacina e haverá o lançamento de um livro com novos detalhes dos fatos.

O evento do dia 7 de outubro faz parte de uma série de audiências e atos de sensibilização por todo o país, para envolver o máximo possível de categorias de trabalhadores, que possam relatar episódios de repressão no período investigado pela Comissão.

 

A Comissão Nacional da Verdade foi instituída em 16 de maio de 2012, tendo como finalidade investigar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.

 

Fonte – G1

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