Audiência Pública ouve mais dois torturados

O economista Martinho Campos e o escritor Washington Rocha irão prestar na quinta-feira, 19, seus depoimentos na Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória da Paraíba sobre as torturas físicas e psicológicas que sofreram durante o regime militar. A audiência pública terá início às 09h30 na sede da Associação Paraibana de Imprensa, à Rua Visconde de Pelotas, 149, Centro, João Pessoa.

Martinho Campos era estudante universitário, militante do Partido Operário Revolucionário Trotskista, à época do golpe militar de 1964. Em novembro daquele ano foi preso por agentes da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) do Estado de Pernambuco. Depois disso, passou por uma delegacia no bairro de Caxangá, pela Secretaria de Segurança Pública, onde funcionava a DOPS; pela 2ª Companhia de Guardas, em Recife, e pelo quartel do 15º Regimento de Infantaria (15 RI), em João Pessoa, onde foi torturado pelo Major Cordeiro. Foi levado, em seguida, para a Ilha de Fernando de Noronha, onde ficou cerca de cinco meses. Em todos os casos, foi vítima de torturas e humilhações.

Em maio de 1965 foi levado de volta para Recife, sendo recolhido à Casa de Detenção, no centro da cidade. Foi liberado nove meses depois, por força de um Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Recursos. Em 16 de agosto de 1966, foi condenado, como revel, a oito anos de prisão pela Justiça Militar, tendo os direitos políticos cassados por dez anos.

Em 14 de abril de 1972 foi novamente preso, desta vez pelo DOI-Codi de São Paulo, onde fora torturado pelo então major, hoje coronel, Carlos Alberto Brilhante Ulstra. Depois disso foi levado ao Deops de São Paulo, ao presídio Tiradentes e, em 1973, para o Carandiru. Em julgamento realizado em 24 de abril daquele ano foi condenado a dois anos e seis meses de reclusão, também com suspensão de direitos políticos por dez anos. Tendo sua pena de oito anos, resultante do julgamento de Pernambuco, em 1966, sido revogada pelo Superior Tribunal Militar, foi posto em liberdade, em livramento condicional, no dia 28 de dezembro de 1974.

Já Washington Rocha começou na militância política de esquerda ainda menor de idade, quando estudava no Liceu Paraibano, em João Pessoa, tendo sido eleito delegado ao Congresso da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, realizado em Salvador (BA) no mês de dezembro de 1968. Naquele mesmo ano foi detido no DOPS, sendo levado ao Quartel do 1º Grupamento de Engenharia, na capital da Paraíba. No ano seguinte, sua matrícula no Liceu Paraibano foi vetada. Ficou na clandestinidade por três meses, tendo se apresentado voluntariamente ao Dops, onde permaneceu preso por alguns dias e, seguida, liberado.


Ele só concluiu o segundo grau através de curso supletivo. Em 1970 foi aprovado no vestibular da UFPB para Direito, mas foi proibido de se matricular no curso. Foi preso no 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa, na companhia do jornalista Jório Machado (depois deputado estadual e secretário de Estado – já falecido) e do engenheiro Potengi Lucena (ex-vereador em João Pessoa). Anos mais tarde, o ingresso na universidade de pessoas consideradas “subversivas” foi liberado mediante um termo condicional, que ele recusou-se a assinar.

Quando esse termo foi dispensado, ingressou no curso de medicina da UFPB. Quando cursava o segundo ano de medicina, em 1974, foi detido pela polícia civil em frente à Casa de Saúde São Vicente de Paula, onde acabara de visitar um irmão que fora acidentado. Foi levado a uma cela da Central de Polícia e depois levado à sede da Polícia Federal em João Pessoa, à unidade do IV Exército, em Recife, retornando à sede da PF em João Pessoa e, em seguida, novamente ao IV Exército em Recife, onde fora submetido a vários tipos de tortura. Foi, mais uma vez, levado de volta à PF na capital paraibana e, finalmente, liberado em maio de 1974.

 

Fonte – Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória – PB

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