Exumar Jango é exumar a ditadura, diz ministra dos Direitos Humanos

Restos mortais serão levados a Brasília para perícia sobre causa da morte. Segundo prefeito de São Borja, grupo discute desenterrar corpo em outubro.

Maria do Rosário durante reunião com grupo que articula exumação de Jango (Foto: Wilson Dias/ABr)

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, voltou a defender nesta terça-feira (17) a exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart (1919-1976) para desvendar a real causa de sua morte, na Argentina. Na primeira reunião técnica entre autoridades, peritos e familiares para discutir os procedimentos para desenterrar o corpo, a ministra disse que exumar Jango é como exumar a ditadura militar e suas “perversidades”.

“Sempre me dizem aqui que exumar o João Goulart é também exumar a ditadura para saber o que ela fez, que perversidades ela fez”, afirmou Maria do Rosário.

O ex-presidente morreu no exílio, na Argentina, em 1976. O laudo oficial afirma que ele sofreu um ataque cardíaco. Entretanto, há suspeitas de que ele tenha sido envenenado por uma cápsula colocada no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração. Para a família de Jango, ele teria sido assassinato em uma ação da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes.

Maria do Rosário disse que documentos em posse da Comissão Nacional da Verdade mostram que Jango foi perseguido durante longo período de sua vida política.

“Nós hoje podemos dizer com toda a certeza, pelos estudos da Comissão da Verdade, pelo trabalho da Secretaria de Direitos Humanos e, principalmente, pelos argumentos e conhecimento histórico e de vivência da família, que o presidente João Goulart foi perseguido todos os dias do seu governo, todos os dias no período de sua deposição e durante o exílio, ainda mais perversamente, se se pode assim considerar, pela chamada Operação Condor”.

A pedido da família de Jango, a Comissão da Verdade, a Secretaria de Direitos Humanos e o Ministério Público Federal do Rio de Grande do Sul decidiram em maio exumar os restos mortais do ex-presidente. Na reunião desta terça, o grupo discute quando e como serão os procedimentos.

João Vicente Goulart, filho do ex-presidente Jango, fala sobre exumação do corpo do pai (Foto: Luciana Amaral/G1)

Data da exumação
No intervalo da reunião, em Brasília, o prefeito de São Borja (RS), onde fica o túmulo de Jango, disse que o grupo discute a possibilidade de realizar a exumação ainda em outubro. O corpo será então levado Brasília, onde será examinado no Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, em Brasília, e retornaria em dezembro para São Borja, segundo o prefeito Farelo Almeida.

Em agosto, peritos visitaram o túmulo de Jango para análises preliminares para a exumação. Segundo disse à época o perito da PF Amaury de Souza Júnior, foi descartado que fossem levados a Brasília apenas amostras dos restos mortais. A justificativa foi que o período de 37 anos desde o sepultamento pode dificultar a realização do exame que detectará se o ex-presidente foi vítima de envenenamento.

Os restos mortais do ex-presidente devem ser abertos somente na Polícia Federal em Brasília, por questões técnicas e de segurança. Todos os exames, como de DNA e de toxicologia, serão realizados no Instituto Nacional de Criminalística.

Para o filho de Jango, João Vicente Goulart, a mobilização para investigar a causa da morte responde aos pedidos da família. Ele diz que, independentemente do resultado da perícia, outros meios podem ser usados para revelar mais as circunstâncias da morte.

“A gente espera que o Estado brasileiro proceda a oitiva dos agentes americanos que teriam participado nessa operação Condor, nas décadas de 60 e 70, nas ditaduras latinoamericanas, e que exija do governo americano os documentos ainda não liberados do departamento de Estado, da CIA, da NSA”, afirmou.

Durante a reunião ficou decidido que no dia 16 de outubro será apresentado um protocolo com normas nacionais e internacionais para o procedimento da exumação dos restos mortais. Porém, nenhuma data de transferência do caixão ou da perícia está definida.

 

A Polícia Federal também não sabe qual a situação do corpo nem do túmulo em si, se bem ou mal conservados. De acordo com o perito Amaury Júnior, coordenador do grupo da PF, o trabalho técnico é difícil. “Quando estamos trabalhando com restos mortais que foram enterrados há 37 anos, independentemente de ser o ex-presidente ou qualquer outra pessoa, poderá vir a ter uma dificuldade técnica. Isso não resta dúvida”, afirmou.

 

Fonte – G1

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